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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Terra NÃO É dos Homens!


Falar o óbvio quase sempre depõe contra quem se dedica a isto. Afinal de contas, se o óbvio é óbvio, para que perder tempo falando coisas óbvias?

O problema é que frequentemente o óbvio se perde, cercado de outras informações que afastam o óbvio de nossa atenção.

Com paciência convido a você para acompanhar este exercício sobre o que considero óbvio, mas você poderá concluir que há controvérsias.

Comecei a reler um livro do James Michener (1907-1997), Centennial. E sempre que leio algum livro de Michener me deparo (e invejo) com a forma super abrangente como ele aborda um texto sobre qualquer coisa ou lugar

Michener parte sempre do princípio, algo que seria óbvio não é?

No caso de Centennial, como de muitos outros livros dele com mais de 1000 páginas, Michener começa com a formação do mundo, há bilhões de anos no local da história. Passa por todas as eras geológicas, relembra os mares quando os mares ocupavam aquela área e segue demonstrando todas as mudanças que se seguiram e vieram a se modificar várias vezes até chegarem aos dias atuais. E que terão importância em relação ao que acontecerá no dia-a-dia dos personagens humanos presentes da sua hístória.

Não vou falar sobre o livro, mas sobre um fato óbvio que decorre da leitura do que ele diz,e de como ele diz:

Da mesma forma que antigos moradores de um cidadezinha são ouvidos para dar uma dimensão histórica ao lugar; coisas como informações sobre o local em que começou alguma tradição, quem a fez notável e assim por diante, Michener que não era geólogo, ou ligado à ciência, transforma o leitor de seus livros num velho morador do mundo com uma memória abrangendo uns 4 bilhões de anos!

Ele começa antes da formação da vida, e nos mostra como a Terra tem como programa irrecorrível mudar e mudar muito e sempre ao longo dos anos.

Não são mudanças determinadas por alguém, ou por deuses. Não são mudanças passíveis de serem julgadas como justas, ou injustas por critérios desenvolvidos pelos homens ao longo de sua história.

A Terra muda por que convive com tantas variáveis em sua estrutura geológica e na sua posição no espaço que seria impossível não mudar. Mesmo que houvesse um grande poder determinado a manter tudo como está.

Quando se passam apenas 100 anos Copacabana deixa de ser um areal à beira mar cercado de montanhas e se transforma no que é hoje. Quando os anos passam a ser contados em centenas ou milhares as mudanças são imensas. Quando são contados em milhões de anos toda a nossa perspectiva de tranquilidade, serenidade, segurança obviamente vai por água abaixo.

Desde a separação da Pangeia, as mesmas placas tectônicas que promoveram a viagem de pedaços de terra tornados nos continentes atuais continuam ativas (vide terremoto do Haiti) e mudando os continentes de lugar. As mudanças não vão ocorrer. Elas continuam a ocorrer.

É sempre bom lembramos que temos abaixo de nossos pés (e apenas a alguns poucos milhares de quilômetros abaixo) a mesma massa ígnea que salta dos vulcões. Toda aquela sopa incandensente , tem a mesma receita da sopa dos primeiros minutos da Terra, E que determinou em momentos de diversos as erupções e resfriamentos tudo o que vemos à nossa volta.

E que geologicamente não há qualquer impedimento para que em algum lugar perto ou longe de nós não ocorra uma mega explosão de lavas a qualquer momento.

Este planeta, cujas condições físicas e químicas ensejaram o surgimento da vida e em especial da nossa vida, é exemplo da aplicação prática de um provérbio árabe:

Os cães ladram e caravana passa.

Em cada um de nós - seres humanos - abrigamos alguns bilhões de bactérias. Há mais bactérias convivendo em nosso intestino, e somente no nosso intestino, promovendo a digestão e absorção do que comemos, do que o total de células vivas em nosso corpo.

Somos viveiros de bactérias invisíveis para nós - por isto deixando de ser uma presença óbvia para nós - e a convivência destas bactérias em nós permite que tenhamos um estado de saúde.

Há registros de bactérias em rochas com 3,7 bilhões de anos. Elas não só são as primeiras formas de vida como são a forma viva mais bem sucedida.

Nós homens somos uma forma muito bem sucedida (em nossa opinião) de como estas bactérias velhas de guerra conseguiram varar os bilhões de anos e estarem tão bem de saúde.

Temos em cada um de nós a síntese da evolução de TODAS as espécies.

Sem bactérias nenhuma forma viva poderia ter sido criada, evoluída ou formada. Por isto em qualquer lugar da Terra examinado com um microscópio eletrônico você vai encontrá-las ocupando todos os espaços. Do meio do deserto mais seco (o Saara já foi fundo de mar) até ao ponto mais profundo dos oceanos ao buraco mais gelado dos polos encontramos sinais das bactérias.

Só para ter uma medida de comparação, as sondas espaciais enviadas a Marte, e que depois de lá terem pousado com sucesso fizeram de tudo para analisar o solo do planeta não encontraram qualquer sinal de vida. Esguincharam jatos de água no solo em cavidades abertas por pazinhas mecânicas comandadas da Terra diante de um espectrógrafo capaz de analisar todas as substâncias ali depositadas.

Em Marte não foi encontrado qualquer sinal de vida. Muito menos de marcianos espertos capazes de fabricarem discos voadores e virem conquistar outros mundos.

No seu planeta não surgiram as nossas santas bactérias em momento algum. E sem bactérias e todas as mudanças por que passou em bilhões de anos a Terra não há possibilidade de marcianos. Nem venusianos, nem mercurianos, nem vizinhos espaciais de qualquer espécie.

Mas, ao longo dos últimos bilhões de anos a nossa Terra das bactérias foi mudando: nossa espécie dos homo sapiens surgiu (há uns 200 milhões de anos apenas) e por termos aprimorado o nosso cérebro somos capazes de pensar, de imaginar coisas - e começamos a considerar como nosso por concessão divina o planeta que nos propiciou a vida.

Numa foto da Terra vista do espaçoo vemos um bolão recoberto de nuvens. E não vemos gente.

Há alguns sinais de nossa atividade nas luzes acesas à noite nas grandes regiões urbanas, pela muralha da China, e nuns poucos sinais aqui e ali, mas evidentemente não vemos o homem e muito menos as bactérias.

O que nós vemos é a Terra numa aparente imutabilidade. Uma imutabilidade que será tudo o que poderemos ver ao longo de nossas curtas vidas diante do retrospecto de bilhões de anos para trás e de outros tantos bilhões de anos para a frente.

A capacidade de pensarmos nestes tempos (à partir de nossa vida efêmera) é um privilégio que carrega consigo o contrapeso da razão da maneira mais dura.E que nos leva desejar esquecer estas coisas do que conviver com elas em nosso dia-a-dia.

Quando crianças todos nós nos achávamos eternos. O primeiro grande choque da vida pensante é descobrir por volta dos 7 ou 8 anos que um dia se irá morrer como morriam as demais pessoas sobre as quais se lia em livros e jornais.

A luta para levar este terrível momento para o mais longe possível foi o motor da evolução humana.

Desde a reprodução da espécie à sua preservação em condições de higidez da melhor forma possível em cada lugar.

Entre os seres humanos que formam a tribo dos ianomânis no alto rio Negro, estes dois objetivos basilares - a reprodução e a preservsção da vida hígida - se faz da mesma forma há pelo menos uns 10 000 anos. Nada mudou a rotina da tribo nestes últimos 10 000 anos. Não se dedicaram a fundir metais, criar ferramentas, nem coisa alguma que desviasse a atenção e os esforços do grupo para nada além da tarefa de reproduzir e preservar as suas vidas.

Entre outras tribos, (inclusive a nossa urbana que nem vemos mais como tribos), a mutação é contínua e a duas necessidades basilares têm passado por reprogramações muito intensas, E até muito mais intensas nos últimos cem anos.

Entre a disposição de nada mudar dos ianomânis e uma sociedade ávida por novidades leva os seus integrantes na tribo urbana quase sempre a ter o impulso de preservar todos os confortos alcançados. Sem pensar em mudanças.

Há a lei do menor esforço. O deixa como está para ver como é que fica. O não mexa em time que está ganhando. A moeda tornou-se uma ferramenta essencial para comprar o acesso a boas condições para o dia seguinte, para semana seguinte, para o mês seguinte, para o ano seguinte.

Para assegurar que os frutos da reprodução, pelo menos durante algum tempo, poderão manter os seus confortos mesmo quando o gerador de riqueza deixar de existir.

Para assegurar o convívio harmonioso ou menos arriscado entre tantos bilhões de habitantes em toda a Terra a espécie humana em todas as tribos criou leis genéricas aplicadas a tudo o que se pode e o que não se pode fazer.

Desde disposições que tinham de ser seguidas no passado distante por terem sido ditadas por deuses, cuja fiscalização abrangia todas as atitudes públicas ou privadas da pessoa, até as disposições registradas em leis para estabelecer como tudo devia ser feito em qualquer sociedade e quando fosse mal feito, como deveria ser resolvido o problema pelo grupo humano com o mínimo desgaste para as partes.

Quanto mais leis e contratos mais claro se tornava que nada poderia haver que não fosse determinado por alguma providência humana.

Os efeitos desta expectativa foram muito além dos homens.E vieram a afetar todas as coisas existentes na Terra. Que passou a ser legislada pelos homens.

Foram estabelecidas fronteiras na vida pessoal, na vida das comunidades, na convivência entre as sociedades. Os rios, em cujas margens sempre os animais de qualquer espécie se fixaram, tiveram o seu uso regulado e com estas regras foram reconhecidas as rivalidades.

O uso do solo, e do que poderia ser feito ao que nele se encontrasse criou a base do direito e a necessidade de registrar todos os atos dos homens em relação ao que faziam ou deixavam de fazer.

Até às bactérias, inseridas em todos os seres vivos ao longo de milhões de anos e sob um ponto de vista bem prático as legítimas proprietárias de todas as formas vivas, inclusive de nós - foram afetadas pelos homens.

As bactérias sob determinadas circunstâncias - provocavam sem que se soubesse serem elas a causa - a morte prematura dos homens.

Desde que elas foram identificadas pelo inventor do microscópio nos anos 1600 os homens começaram a mudar a vida das bactérias em busca da extensão de suas próprias vidas.

Estas informações quando intensamente compartilhadas entre os homens induzem a certeza de que nada que aconteça deve ocorrer sem a intervenção a favor ou contra dos homens.

Doentes recorrem a médicos e a hospitais onde buscam a extensão de sua vida hígida,assim como estes mesmos cidadãos definem de tempos em tempos que segmentos de seu grupo vão conduzir os destinos de suas regiões, quais devam ser as leis novas a serem redigida e quais leis antigas devam ser substituídas.

Quando não há a possibilidade de isolamento das demais comunidades humanas - como é o caso dos ianomânis - as mudanças e a empolgação diante das mudanças demandam grandes esforços sob um prisma humano.

Enquanto um ianomâni precisa ao longo de sua vida deslocar-se por seus próprios meios (andando, navegando em embarcações feitas por eles próprios e movidas por seus braços) os seres humanos intensamente envolvidos entre si deslocam-se por toda a terra em aviões, carros e navios que requerem uma infinidade de serviços e obras adicionais para poderem existir. E muitas leis e regulamentos.

Tudo isto se contrapõe à simplicidade dos ianomânis e desenvolve a certeza de que não há nada poderia existir fora deste contexto.

Há evidência bem explicada por Michener de que tudo que existe na Terra depende apenas da Terra e praticamente nada na Terra depende dos seus habitantes. Qualquer que seja a sua espécie.

Quando ocorrem os grandes desastres naturais, como furacões, chuvas intensas, desmoronamentos, terremotos, erupção de vulcões isto se torna muito visível. Mas, rapidamente estas informações são deixadas de lado, pois outras notícias aparecem a cada segundo.

Ao longo dos bilhões de anos, e dos milhões de anos a que sempre se refere Michener para contextualizar seus livros, há uma conclusão óbvia indiscutível: nada do que aqui existe é definitivo. Nem perto disto.

Tudo é mutante, como são mutantes as crenças dos homens em relação a tudo no que acreditam.

Para justificar este texto peço a atenção para o seu título: A TERRA NÃO É DOS HOMENS.

Na verdade os homens é que são da Terra.

Em contraposição a movimentos centrados numa onipotência do homem que pretende determinar - sem espaço para dúvidas - o que deva ser feito para que a Terra dos Homens se preserve creio que devemoa nos conscientizar de que nós é que somos da Terra.

Isto cria um respeito muito mais profundo dos homens em relação ao astro que lhe proporcionou viver.

Protágoras, que viveu por volta do período em quer surgia a religião cristã, disse o seguinte:

"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."

A frase é intrigante, especialmente quando fala das coisas que não são, mas revela que Protágoras, por valorizar a sua capacidade de pensar via nesta capacidade a ÚNICA forma dos seres humanos avaliarem o mundo.

Uma bactéria mais esperta e pensante poderia ter dito a mesma coisa em relação às bactérias, mas não disse por não saber dizer como nós homens somos capazes de dizer.

E por sabermos dizer podemos dizer coisas certas e coisas erradas. Coisas muito certas e coisas muito erradas.

Pena que o nosso período de poder dizer seja tão pequeno em relação a todo o tempo do mundo...


edrra

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Antes foi o Corvo, hoje falo do gato Oscar e o terror aumenta...


No "Por quem os sinos dobram" do Hemingway havia uma cigana em meio aos combatentes na Espanha que "sentia o cheiro da morte" nos soldados. Eles não estavam doentes, nem feridos, eles simplesmente poderiam entrar em combate no dia seguinte, ou nos dias seguintes.E quando ela sentia o cheiro, com certeza não iam voltar.

Ela, se não me engano, Pilar, sabia que aquela pessoa iria morrer.

Agora eis que surge um gato chamado Oscar adotado ainda como um gatinho de um depósito municipal de animais abandonados pelo Steere House Nursing and Rehabilitation Center de Providence, Rhode Island nos Estados Unidos, com habilidade igual.

Oscar nada tinha de estraordinário como gatinho , a não ser uma falta de disposição de ser amável com estranhos, o que não é incomum em gatos.

Só que o Oscar, devido à repetição de um gesto constatado pelos funcionários da Steere, sempre fazia questão de deitar-se no leito junto a pacientes que iam morrer no dia ou nos dias seguintes.

Oscar já predisse 50 mortes, e sua passagem pelos corredores da clínica deve apavorar os residentes que já sabem de sua habilidade.

Saiu um livro este mês escrito pelo dr. David Rosa "Making Rounds With Oscar: The Extraordinary Gift of an Ordinary Cat" que procura ir além do fato jornalístico; a existência de algum hormônio sentido apenas pelos gatos e que possibilite a ele ter esta certeza do fim próximo.

Mas, mistérios são mistérios e quanto há mais tempo sejam mistérios, se tornam mais estranhos.

Semana passada foi encontrada uma estatueta de um gato egípcio com mais de 3000 anos, conservada até hoje no ambiente em que ele devia ser cultuado.Cultuado porque? Já pensou?

Ora, do mesmo modo que o autor do livro 1421, o Menzies explicou que os chineses não inventaram a bússola apenas como uma curiosidade, nem a pólvora para fazer fogos de artifício, mas usaram suas invenções em esquadras poderosas que percorreram todos os mares do mundo, os egípcios talvez não tenham sido adoradores de gatos só por que gatos são adoráveis como estes três aí acima...

Ao longo de muitos anos, até de muitas décadas, tive gatos em minha casa. E com eles mantive um relacionamento mutuamente respeitoso. Nunca imaginei caninizar um gato. Cachorros, que também tive, podem até se felinizar em alguns momentos, mas um gato jamais irá buscar um jornal.

O gato, talvez por seus poderes supersensoriais, pode até picar um jornal, mas apanhá-lo na boca para trazer a seu humano residente, JAMAIS.

Em cima destes fatos sobre gatos há um outro também muito estranho e definitivo: há pessoas que têm horror a gatos.

Neste momento podemos imaginar a razão dos egípcios, uma boa parte deles pelo menos, terem adoração pelos gatos. Se há pessoas que têm horror haverá pessoas que podem ter adoração, não é?

Gatos, e o Oscar mais ainda, não riem, nem fazem nada que possa parecer com isto.

Gatos não demonstram emoções humanas, ronronam por que isto deve agradar-lhes, se esfregam nas pernas das pessoas pelos memos motivos e ficam contentes quando lhes damos bocadinhos de alimentos - depois de cheirarem para saber de sua natureza.

Esta história do Oscar e de sua habilidade em sentir o fim da vida de pessoas próximas me serve (e sugiro que sirva também a você) para olhar os gatos sob nova ótica.

Pela mais simples das razões: eles sabem das coisas, ou pelo menos sabem de uma coisa que preocupa a todos.

E também para que ao assistir a entrega dos prêmios para o pessoal do cinema em Hollywood nas próximas semanas, não fique com inveja do anúncio:

- E o Oscar vai para ...