O bem-te-vi tem muito mais a ver com o Brasil do que você podia pensar até agora!
Conselhos e ditos populares eram tão previsíveis quanto eram ritualmente falados em versos.
Antes de chegar ao João Gome, deste post peço a sua atenção para o caso do Bem-Te-Vi.
O Bem-te-vi é um passarinho, que já estava no Brasil quando os portugueses aqui chegaram e já descrito por Pero de Magalhães Gandavo , em 1600. O bdem-te-vi recebeu o seu nome na ritualização de um costume intensamente praticado pelos colonizadores: a denúncia dos pecados alheios. Sendo o roubo um dos mais graves.
Antonio Vieira em um dos seus mais atuais sermões denuncia o roubo e diferencia o ladrão comum do grande ladrão também no Século 17.
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo, não são aqueles miseráveis, a quem a
pobreza e vileza da sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou
escusa ou alivia o seu pecado, como diz Salomão...
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo procedimento distingue muito bem São Basílio Magno... não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões,
ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com
força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco estes sem temor, nem perigo: os outros,se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar:
Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos.
Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosa as outras nações, se nelas não padecera a
justiça as mesmas afrontas.
Vieira nos anos 1600 denunciava os ladrões numa terra imensa em que o roubo era dos menores dos pecados.
O Santo Ofício sem a sanha demonstrada na Europa buscava os pecadores diversos para a excomunhão ou para penas mais suaves que só podiam ser impostas àqueles que às escondidas cometiam pecados nefandos contra a castidade. E as Leis de Deus.
O canto do Bem-te-vi, um passarinho presente em todo o Brasil, passou a ser entendido como uma indicação aos pecadores de que não estavam tão escondidos quanto pensavam.
O passarinho "sabia" o que estava acontecendo e quem estava de fato fazendo alguma coisa pecaminosa levava um grande susto quando ouvia:
- Bem - te - vi!
Antes da antropofagia de comer o João Gome há uma outra palavra indígena que todos nós aprendemos nos primeiros meses de vida:
Mingau.
Mingau é uma palavra indígena que já estava em uso quando os portugueses chegaram à costas do Brasil.
E já era uma iguaria cuja explicação etimológica se revela na wikepedia: "Mingau" vem do tupi minga'u[1], "o que alguém empapa". Originalmente, era uma pasta espessa utilizada também em rituais, muitas vezes feita com as vísceras dos prisioneiros sacrificados pelos índios Tupinambás.[
Não era originalmente nem de maizena, nem de aveia. Era das vísceras dos sacrificados nas tribos.
O que explica também a cantiga do Lobo Mau ""que pega as criancinhas para fazer mingau".
A resposta rimada para as criancinhas que diziam às suas babás que estavam com fome tem várias versões todas na mesma linha.
No meu caso era:
- Tô com fome.
- Vai na rua, mata João Gome, que é um bom home, e come!
É uma ordem que não podia ser cumprida diante do passarinho que a denunciasse com o grito de bem-te-vi.
Se não o Santo Ofício podia pegar você. Ainda bem que inventaram a televisão e acabaram com o costume de dar conselhos como estes às criancinhas. Ou não ?
Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo, não são aqueles miseráveis, a quem a
pobreza e vileza da sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou
escusa ou alivia o seu pecado, como diz Salomão...
O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo procedimento distingue muito bem São Basílio Magno... não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e
dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões,
ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com
força, roubam e despojam os povos.
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco estes sem temor, nem perigo: os outros,se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que uma grande tropa de varas e ministros de justiça levam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar:
Lá vão os ladrões grandes enforcar os pequenos.
Ditosa Grécia, que tinha tal pregador! E mais ditosa as outras nações, se nelas não padecera a
justiça as mesmas afrontas.
Vieira nos anos 1600 denunciava os ladrões numa terra imensa em que o roubo era dos menores dos pecados.
O Santo Ofício sem a sanha demonstrada na Europa buscava os pecadores diversos para a excomunhão ou para penas mais suaves que só podiam ser impostas àqueles que às escondidas cometiam pecados nefandos contra a castidade. E as Leis de Deus.
O canto do Bem-te-vi, um passarinho presente em todo o Brasil, passou a ser entendido como uma indicação aos pecadores de que não estavam tão escondidos quanto pensavam.
O passarinho "sabia" o que estava acontecendo e quem estava de fato fazendo alguma coisa pecaminosa levava um grande susto quando ouvia:
- Bem - te - vi!
Antes da antropofagia de comer o João Gome há uma outra palavra indígena que todos nós aprendemos nos primeiros meses de vida:
Mingau.
Mingau é uma palavra indígena que já estava em uso quando os portugueses chegaram à costas do Brasil.
E já era uma iguaria cuja explicação etimológica se revela na wikepedia: "Mingau" vem do tupi minga'u[1], "o que alguém empapa". Originalmente, era uma pasta espessa utilizada também em rituais, muitas vezes feita com as vísceras dos prisioneiros sacrificados pelos índios Tupinambás.[
Não era originalmente nem de maizena, nem de aveia. Era das vísceras dos sacrificados nas tribos.
O que explica também a cantiga do Lobo Mau ""que pega as criancinhas para fazer mingau".
A resposta rimada para as criancinhas que diziam às suas babás que estavam com fome tem várias versões todas na mesma linha.
No meu caso era:
- Tô com fome.
- Vai na rua, mata João Gome, que é um bom home, e come!
É uma ordem que não podia ser cumprida diante do passarinho que a denunciasse com o grito de bem-te-vi.
Se não o Santo Ofício podia pegar você. Ainda bem que inventaram a televisão e acabaram com o costume de dar conselhos como estes às criancinhas. Ou não ?
Nossa, cá na minha Petrópolis, no Rio de Janeiro, em terras brasileiras, cresci nos anos 70 ouvindo essa frase de minha mãe ao pedir comida: "Tá com fome? Vai na rua do João Gome, mata um home e come!". Uma variação mas que se manteve na tradição oral até aquele momento. Muito legal.
ResponderExcluir