Este post é um convite para um mergulho na sua alma, na sua mente e quando isto acontece os resultados podem não ser muito agradáveis.
Mas, será que vale a pena?
Você lê, você julga.
Lá vai: a expressão Nunca Mais é uma das mais definidas e definitivas expressões humanas. Você há de concordar comigo que nossa sempre rápida existência - mesmo vivendo mais de 100 anos - é um nada em relação aos milhões de anos de vida na Terra.
Dai frequentemente nos vermos diante de situações NUNCA MAIS.
Há situações NUNCA MAIS dramáticas, que demoram a esmaecer em nossa memória e em nossas paixões e situações NUNCA MAIS tão fraquinhas que no dia seguinte já começam a ser definitivamente esquecidas.
Mas, não há nada falado ou escrito que supere a realidade, vivida.
Minha primeira situação NUNCA MAIS identificada por mim como NUNCA MAIS foi a morte prematura de meu padrinho e amigo quando eu tinha 17 anos.
Ao vê-lo no caixão pronto para ser enterrado me dei conta do NUNCA MAIS. NUNCA MAIS conversas sobre o mundo, sobre os negócios, sobre as amizades, sobre a politica e suas consequências. Nada em especial, mas a amizade do menino com o padrinho ali naquele momento passava a ser um NUNCA MAIS definitivo.
Ainda não havia lido o Corvo de Edgar Alan Poe em que o Nevermore tornara-se em obra prima literária, universal.
Em português há duas traduções notáveis do Corvo. Uma de Fernando Pessoa e outra de Machado de Assis.
Para trazer o mistério por trás do NUNCA MAIS preferi usar e transcrever nesta Liberdade Carioca a tradução de Fernando Pessoa. Algumas sonoridades lusas, na minha opinião, emolduram de forma mais dramática conotações que não assomam tão facilmente assim à nossa consciência.
Mas, o que assoma à consciência é o que me levou de fato a escrever este texto.
Hoje pela manhã, ao vir para o escritório, entrevi andando nas margens da Lagoa um cidadão que durante um milésimo de segundo pareceu meu pai morto em 1973. No milésimo de segundo seguinte vi que se havia alguma semelhança estava nos óculos escuros antigos e na estatura mediana.
A sensação de derrogar - por um milésimo de segundo que seja - o NUNCA MAIS é no entanto muito prazerosa.
Tal como em sonhos em que pessoas amadas que se foram aparecem em situações novas em que a morte deixa de existir - sempre de forma surpreendente - tornam a lembrança daquela noite uma ocasião memorável. Mesmo quando a situação vivida em sonho seja uma completa bobagem, sem lógica, sem entrosamento com o momento anterior, sem consequências para os momentos seguintes.
Mas, a sensação final é parecida como uma viagem contada por alguém quando não temos a menor intenção ou possibilidade de vir a fazê-la.
O NUNCA MAIS vive em nossa memória, e tem nela - ou na mente - a única possibilidade real de deixar de ser, por milésimos de segundos que seja, um NUNCA MAIS definitivo.
O CORVO em inglês e português foi exposto acima.Ao mesmo tempo você vai ler Poe e Pessoa. Aproveite.
Nenhum comentário:
Postar um comentário