segunda-feira, 19 de abril de 2010
Data Venia, você hoje tem se ser iconoclasta. E dar graças a Deus por isto...
Desde 2007 eu fundi a PB, uma agência de comunicação dirigida fundada por mim e pela Vivian Fasca com a REPENSE, criada e instalada em São Paulo pelo Otávio Dias.
O nome da agência é uma declaração de propósitos, uma afirmação quanto à maneira de fazer publicidade (comunicação com o mercado) que me fascinou desde a primeira vez que conversamos sobre o novo empreendimento.
Há já pelo menos uns 20 anos tinha consciência de que o negócio de prestar serviços de comunicação para organizações deveria ser muito mais abrangente do que vinha sendo praticado e aprimorado ao longo do século 20.
Pois o século 20 trazia tantas modificações ao que se fazia e ao que deveria ser feito que a propaganda deveria refletir este fato.
Até por não encontrar (ou ser incapaz de achar...) espaço para os debates técnicos “neutros” e acadêmicos em outras respeitáveis associações fui um dos fundadores da Associação Brasileira de Marketing Direto (ABEMD) eleito como o seu primeiro presidente quando ainda se chamava Instituto Brasileiro de Marketing Direto, IBMD.
Conto esta história toda para demonstrar a necessidade – muito além da área de comunicação com o mercado – de sermos iconoclastas hoje.
Em 1976. quando foi formada, a ABEMD congregou os profissionais e as empresas dedicadas ao marketing direto empenhados todos em estabelecer novas oportunidades de trabalho num mercado em evolução. Éramos iconoclastas.
Ser iconoclasta em nossa época, como foi em 1976, é muito mais fácil do que quando o termo foi criado por volta do ano 700.
Iconoclasta eram os cristão dedicados a quebrar imagens (ícones) que representavam Deus e os santos e eram veneradas com o mesmo ardor dedicado ao Deus católico e aos santos.
Algo que estes cristãos garantiam que não estava previsto e ao contrário era proibido nos evangelhos.
O que poderia ser algo tão simples quanto fundar uma associação teve consequências muito mais sérias para os que defendiam e os que reprovavam as imagens.
Prisão, condenação à morte, excomunhão eram consequências muito mais dolorosas do que uma identificação de “marqueteiros diretos” num ambiente em que a maioria era reconhecida como “publicitários”.
Nos últimos dias ocorreram fatos que me levaram a escrever este texto e a propor o desafio no título para você que o lê qualquer que seja a atividade a que se dedique:
É impossível nos dias em que vivemos - e nos dias que vamos viver – deixarmos de ser iconoclastas. Se decidirmos nos conformar com o que existe estaremos abdicando da maior vantagem de sermos humanos, racionais, de estarmos vivendo nesta época e dispormos de tantas informações.
Um destes fatos foi o lançamento do livro de Marcelo Gleiser, CRIAÇÃO IMPERFEITA, Cosmo Vida e o Código Oculto da Natureza, pela Editora Record em um evento com direito a uma palestra do próprio Marcelo sobre o tema der seu livro.
Marcelo é brasileiro, carioca, criado em Copacabana, formado pela PUC em física, autor de livros de divulgação científica notáveis, como A dança do Universo e O fim da Terra e do céu e dirigente de um grupo de pesquisa em física teórica no Dartmouth College, nos EUA onde é professor de Filosofia Natural e de Física e Astronomia.
Filosofia Natural era o nome admitido para a ciência até o século 19. Quem se dedicava a estudar o que fazia o mundo existir não recebia o rótulo de cientista, e sim de filósofo natural, uma denominação a que se atribuíam os gregos desde o 5º século antes de Cristo.
Aristóteles, Platão, Sócrates e todos os demais pensadores sobre o mundo e as pessoas eram filósofos naturais.
Newton que foi considerado o primeiro cientista a identificar a “lei da gravidade” ao analisar o que ocorria com os corpos em queda e ao definir os princípios matemáticos relacionados a isto, chamou o seu livro de Philosophiae Naturalis Principia Mathematica . Os princípios matemáticos da filosofia natural.
No livro de Gleiser, lançado pela Record em 2010, em 360 páginas ele se compromete a não utilizar fórmulas além da E=mc² e a explicar todos os termos técnicos inacessíveis ao leitor leigo, e promove o mais violento terremoto sobre o conhecimento científico, sobre a sua vida, a religião e a filosofia desde que Kepler, Copérnico e Galileu demonstraram (correndo grandes riscos de vida) que a Terra não era o centro do Universo, e que ao girar em torno de seu eixo fazia ocorrer os dias e as noites. O sol não nascia no leste nem morria no oeste todos os dias.
Foi um choque terrível acordar num dia como centro do universo que girava em nossa volta, criado pelo nosso Deus, que nos havia feito à sua imagem e semelhança para nos beneficiarmos de tudo aquilo desenvolvido sob medida para a nossa fruição em vida e após a vida e ir dormir no mesmo dia como habitantes de um planeta que girava em torno do sol, este sim, o centro do universo.
No livro do Gleiser ele dedica o vigor de um jornalista diante da maior reportagem que pudesse apurar a demonstrar que a busca durante 25 séculos da Teoria do Tudo é destituída de sentido.
No ano de 2010 da mesma forma dramática que os homens perderam seu status de centro do universo há 400 anos, nós agora – talvez como a única forma de vida provada e inteligente do universo – nos vemos completamente dissociados das disposições positivas ou negativas de divindades de qualquer espécie.
A iconoclastia de Marcelo Gleiser em 2010 propõe algo mais do que quebrar a imagem de Deus. Ele questiona a existência de qualquer força que se assemelhe a divindades de qualquer espécie.
Há apenas quatro séculos os interessados nas pesquisas de Copérnico, Kepler e Galileu se viram destituídos da honra de estar no centro de um Universo criado por Deus em seu benefício.
Hoje em 2010 nos vemos diante da muito terrível situação de destituídos de todos os deuses, devendo as nossas vidas, a nossa evolução, nossas qualidades e nossas falhas a resultantes aleatórias de cadeias de vida formadas e mantidas há bilhões de anos.
Cada um de nós é descendente direto da célula viva inicial cujo rastreamento algum dia talvez seja identificado em nosso organismo.
Uma herança da qual nos orgulharemos de forma muito mais entusiástica do que quando vemos o nome de nossos antepassados diretos em registros de uma história recente.
Marcelo, mesmo diante do mundo sem um Deus criador de tudo e zeloso interessado nos destinos de sua criação, reconhece que neste momento ao contrário de sermos diminuidos ganhamos uma nova importância superior a tudo o que se possa imaginar.
Mas, vai ser muito difícil admitirmos mais esta diminuição de nosso status diante do Universo.
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