As novas terras portuguesas achadas por Cabral estavam situadas a menos de 370 léguas a oeste das ilha de Cabo Verde, pois somente as terras além desta distância seriam espanholas, como por exemplo as Américas descobertas por Colombo em 1492...
Caramba! Os portugueses passaram os anos 1400 navegando pelas costas da África, que mapearam trecho por trecho até que Bartolomeu Dias chegou em 1488 ao Cabo da Boa Esperança, a porta de entrada para o Oceano Índico, percorrido por Vasco da Gama, quase 10 anos depois até Calecute, abrindo oficialmente os caminhos marítimos para fugir das taxações e monopólios que elevavam o preço das “especiarias” ,vendidas na Europa a patamares inalcançáveis pela maioria absoluta da população.
Olhe para um mapa-múndi e veja a imensa distância entre Portugal e a Índia e se tiver paciência calcule a distância a ser percorrida. Era mais do que uma volta ao mundo. A ser vencida em embarcações de menos de 30 metros de comprimento. Com tripulações que precisavam se alimentar, receber os tratamentos médicos disponíveis e voltarem para Portugal com os bolsos cheios.
Todo este esforço hercúleo “apenas para importar especiarias sem pagar tantas taxas pelas rotas terrestres”?
Se no continente europeu a “necessidade” da higiene pessoal permanece ainda hoje como algo a ser mais popularizada (banhos semanais ou quinzenais, não são raros na França, Itália e Alemanha) o que se dirá da limpeza pessoal em embarcações em que a água tinha de ser reservada para o consumo acima de tudo?
As naus podiam ser pressentidas sempre que os ventos soprassem em direção ao litoral. Elas eram tão fétidas que hoje causariam engulhos em qualquer pessoa afeita a banhos, mas os seus tripulantes - a origem desta fedentina – não eram por ela afetados já que era geral – natural – e seria um motivo de espanto e talvez até de nojo se por acaso houvesse um navio sem este cheiro de navio...
No entanto as pessoas que compunham estas tripulações eram nos séculos XV e XVI uma seleção dos mais capacitados profissionais da navegação existentes no mundo.
Há a tendência de imaginarmos que os comandantes destas frotas eram os detentores isolados do conhecimento e que suas tripulações eram formadas por gente forte, com boa saúde, e que não podia pensar muito. Pois, se pensasse, cairia fora diante da imensidão e riscos de suas missões.
Esta percepção da ignorância dos tripulantes das grandes navegações é mais um tabu a ser desmontado. Qualquer dos embarcados quando sabia escrever podia se tornar autor de obras preciosas sobre viagens e sobre o mundo por eles acessado.
As embarcações portuguesas eram o máximo em evolução da engenharia naval na época Com as caravelas - os portugueses foram explorando baía por baía desde o Norte da África até o mais distante ponto ao sul em busca de dois objetivos: chegar às terras do Preste João e encontrar uma rota para as riquezas das Índias que fugissem das existentes terrestres e de seus pedágios.
O lucro das viagens por mar seria astronômico. Sem pagar um tostão no caminho e com os porões dos navios abarrotados de especiarias...Claro que havia o risco dos naufrágios, mas este estava presente para quem estivesse em qualquer mar...
As caravelas que tornaram estas viagens portuguesas possíveistinham uma característica única, especialíssima: as velas latinas,armadas de forma semelhante à dos modernos barcos a vela para competição: eram presas a um mastro por um de seus lados e ao contrário das velas grandes e redondas das outras embarcações, elas usavam a aerodinâmica para permitir navegar contra os ventos...
As velas latinas possibilitam navegar com um barco à vela contra o vento. Ou quase contra o vento. No mínimo 45° contra um vento de proa, podendo chegar a 35°. Deste modo “os bons ventos” que num navio com velas redondas não precisam ser apenas os que chegam a 90° do rumo pretendido. E muito menos apenas os ventos de popa.
Todas estas explicação náuticas estão aqui para evidenciar dois diferenciais competitivos dos portugueses: eles sabiam navegar contra ventos contrários (em zigue zague) indo com muito mais rapidez a seus destinos, e contavam com um tipo de embarcação tecnologicamente muito superior a todas as demais e que eles sabiam melhor do que qualquer marinheiro navegar.
Todo este conhecimento náutico não tinha sido obtido por acaso. Por mais estranho que isto possa parecer aos olhos de quem considere os portugueses como menos sofisticados – especialmente nestes tempos remotos – o centro mais sofisticado de pesquisas do mundo no século XV estava em Portugal. Ficou conhecida como Escola de Sagres, e o seu inspirador foi o Infante D. Henrique, que sem ter nunca velejado, entrou para a história com o nome de “Navegador”.
Há também alguns tabus em relação a esta escola, que não teria existido como Escola, mas como um centro de pesquisas que acolhia cristãos, muçulmanos e judeus, numa mistura explosiva para os padrões da época. Mas seu ambiente livre, libertário, encorajou a melhor pesquisa científica.
A cruz de malta nas velas portuguesas se originou na Escola de Sagres que foi dentre outras coisas o resultado da destruição da Ordem dos Cavaleiros Templários, em Malta cujos remanescentes foram abrigados em Portugal exatamente onde anos depois ficou “instalada” a Escola de Sagres.
Nova pausa para respirar...
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