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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Todas as surpreendentes coincidências da história do Brasil...não foram coincidências

As novas terras portuguesas achadas por Cabral estavam situadas a menos de 370 léguas a oeste das ilha de Cabo Verde, pois somente as terras além desta distância seriam espanholas, como por exemplo as Américas descobertas por Colombo em 1492...

Caramba! Os portugueses passaram os anos 1400 navegando pelas costas da África, que mapearam trecho por trecho até que Bartolomeu Dias chegou em 1488 ao Cabo da Boa Esperança, a porta de entrada para o Oceano Índico, percorrido por Vasco da Gama, quase 10 anos depois até Calecute, abrindo oficialmente os caminhos marítimos para fugir das taxações e monopólios que elevavam o preço das “especiarias” ,vendidas na Europa a patamares inalcançáveis pela maioria absoluta da população.

Olhe para um mapa-múndi e veja a imensa distância entre Portugal e a Índia e se tiver paciência calcule a distância a ser percorrida. Era mais do que uma volta ao mundo. A ser vencida em embarcações de menos de 30 metros de comprimento. Com tripulações que precisavam se alimentar, receber os tratamentos médicos disponíveis e voltarem para Portugal com os bolsos cheios.

Todo este esforço hercúleo “apenas para importar especiarias sem pagar tantas taxas pelas rotas terrestres”?


Se no continente europeu a “necessidade” da higiene pessoal permanece ainda hoje como algo a ser mais popularizada (banhos semanais ou quinzenais, não são raros na França, Itália e Alemanha) o que se dirá da limpeza pessoal em embarcações em que a água tinha de ser reservada para o consumo acima de tudo?

As naus podiam ser pressentidas sempre que os ventos soprassem em direção ao litoral. Elas eram tão fétidas que hoje causariam engulhos em qualquer pessoa afeita a banhos, mas os seus tripulantes - a origem desta fedentina – não eram por ela afetados já que era geral – natural – e seria um motivo de espanto e talvez até de nojo se por acaso houvesse um navio sem este cheiro de navio...

No entanto as pessoas que compunham estas tripulações eram nos séculos XV e XVI uma seleção dos mais capacitados profissionais da navegação existentes no mundo.

Há a tendência de imaginarmos que os comandantes destas frotas eram os detentores isolados do conhecimento e que suas tripulações eram formadas por gente forte, com boa saúde, e que não podia pensar muito. Pois, se pensasse, cairia fora diante da imensidão e riscos de suas missões.

Esta percepção da ignorância dos tripulantes das grandes navegações é mais um tabu a ser desmontado. Qualquer dos embarcados quando sabia escrever podia se tornar autor de obras preciosas sobre viagens e sobre o mundo por eles acessado.

As embarcações portuguesas eram o máximo em evolução da engenharia naval na época Com as caravelas - os portugueses foram explorando baía por baía desde o Norte da África até o mais distante ponto ao sul em busca de dois objetivos: chegar às terras do Preste João e encontrar uma rota para as riquezas das Índias que fugissem das existentes terrestres e de seus pedágios.

O lucro das viagens por mar seria astronômico. Sem pagar um tostão no caminho e com os porões dos navios abarrotados de especiarias...Claro que havia o risco dos naufrágios, mas este estava presente para quem estivesse em qualquer mar...

As caravelas que tornaram estas viagens portuguesas possíveistinham uma característica única, especialíssima: as velas latinas,armadas de forma semelhante à dos modernos barcos a vela para competição: eram presas a um mastro por um de seus lados e ao contrário das velas grandes e redondas das outras embarcações, elas usavam a aerodinâmica para permitir navegar contra os ventos...

As velas latinas possibilitam navegar com um barco à vela contra o vento. Ou quase contra o vento. No mínimo 45° contra um vento de proa, podendo chegar a 35°. Deste modo “os bons ventos” que num navio com velas redondas não precisam ser apenas os que chegam a 90° do rumo pretendido. E muito menos apenas os ventos de popa.

Todas estas explicação náuticas estão aqui para evidenciar dois diferenciais competitivos dos portugueses: eles sabiam navegar contra ventos contrários (em zigue zague) indo com muito mais rapidez a seus destinos, e contavam com um tipo de embarcação tecnologicamente muito superior a todas as demais e que eles sabiam melhor do que qualquer marinheiro navegar.

Todo este conhecimento náutico não tinha sido obtido por acaso. Por mais estranho que isto possa parecer aos olhos de quem considere os portugueses como menos sofisticados – especialmente nestes tempos remotos – o centro mais sofisticado de pesquisas do mundo no século XV estava em Portugal. Ficou conhecida como Escola de Sagres, e o seu inspirador foi o Infante D. Henrique, que sem ter nunca velejado, entrou para a história com o nome de “Navegador”.

Há também alguns tabus em relação a esta escola, que não teria existido como Escola, mas como um centro de pesquisas que acolhia cristãos, muçulmanos e judeus, numa mistura explosiva para os padrões da época. Mas seu ambiente livre, libertário, encorajou a melhor pesquisa científica.

A cruz de malta nas velas portuguesas se originou na Escola de Sagres que foi dentre outras coisas o resultado da destruição da Ordem dos Cavaleiros Templários, em Malta cujos remanescentes foram abrigados em Portugal exatamente onde anos depois ficou “instalada” a Escola de Sagres.


Nova pausa para respirar...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O Brasil não é tão diferente dos demais países ...por acaso

Como num texto de blog o redator ousa se meter num tema cuja exposição requereria um embasamento acadêmico de conformidade com todas as regras?

Explico e tento justificar: este texto refugia-se na informação jornalística. Este blog é dedicado a derrubar tabus. E está aberto – os comentários livres estão disponíveis para qualquer leitor interessado em refutá-lo, Apoiá-lo, comentá-lo.

Entenda esta postagem como um início de debate, mas leia o exposto a seguir e veja se nele não há indícios suficientes para justificar o título e a derrubada de mais um tabu.

É um tabu antigo com mais de 500 anos, mas como ele influencia a nós brasileiros até os dias de hoje merece uma revisão.

Convido você a dar um mergulho assistido em nossa história e na história do mundo.

Justifico este mergulho de mais de 500 anos com dois pensamentos do William Faulkner:

Facts and truth really don't have much to do with each other.

Ele escreveu isto nos anos 20, e poucas pessoas louvaram a sua afirmação que se tornou cada vez mais verdadeira nos anos seguintes. Os fatos e as verdades de fato nos provam todos os dias que não têm muito a ver entre si.
A segunda frase do Faulkner também da mesma época nos leva a pensar ainda mais profundamente:

The past is never dead. It's not even past.

Basta você analisar, qualquer que seja a sua idade hoje, como o seu passado permanece vivo dentro de você, influenciando mesmo quando você não fica remoendo o que fez... o que você faz hoje ou deixa de fazer.

Vamos então ao nosso mergulho de 500 anos ao passado:


Cabral chegou ao Brasil no comando de uma esquadra de 13 navios organizada para chegar às Índias contornando o Cabo da Boa Esperança, no sul da África, seguindo o percurso de outra pequena frota (de três navios) comandada por Vasco da Gama, dois anos antes.

Iria percorrer o caminho marítimo para chegar às riquezas da Índias fugindo dos riscos e das taxas para que as mesmas mercadorias poderem chegar à Europa pelas vias habituais, por terra e por mar, mas sem dar a volta oceânica pelo sul da África.

Mas a nova rota da frota de Cabral em vez de seguir os rumos habituais – ao longo da costa africana, incluíram uma navegação tão aberta para oeste que os levou ao litoral da Bahia. E ao “achamento” como o denominou o escrivão da frota Pero Vaz Caminha de uma Terra de Santa Cruz devidamente registrada como uma nova possessão dos portugueses por decreto papal em abril de 1500 tudo de acordo com o que estabelecia o Tratado de Tordesilhas assinado em 1494 entre os reinos de Portugal e Espanha dividindo as novas terras que estavam sendo descobertas entre os dois países, num documento também assinado pelo papa Alexandre V.

O que o papa tinha a ver com isto? A Santa Sé e o seu pontífice eram reconhecidos como os legítimos representantes de Deus na Terra.

Se o papa dizia que alguma coisa deveria ser feita de alguma maneira não poderia haver qualquer força humana para contestar.

Pausa para respirar. Pois este texto vai sair muito maior do que o previsto inicialmente...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Convite para derrubarmos Tabus:




A maior virtude de nosso novo mundo interconectado é a possibilidade de derrubarmos inverdades históricas.

Até poucos anos atrás qualquer pesquisa mais séria requeria deslocamentos internacionais, pesquisas em universidades e bibliotecas desde que você pudesse comprovar a validade de suas intenções, buscar livros, achar autores entrevistá-los e por fim chegar a poucas linhas de pesquisa séria.

Não é sem razão que hoje tantas "verdades" históricas estão sendo derrubadas.

Pra que fazer isto?

Por que não deixar os fatos antigos em paz e não mexer em vespeiros?

Afinal de contas o que vale é o que estamos vivendo agora.

O passado já passou e em nada poderá alterar a nossa vida hoje...

A resposta meio ilógica, meio arrogante, meio aberta a muitas críticas seria a mesma dada pelo Hillary sobre as razões que o levavam a querer escalar o Everest diante de tantos riscos e à inutilidade de tantos esforços:

- Porque ele está lá!

É o desafio de não aceitar inverdades e em nosso caso não permitir que estas inverdades possam orientar a nossa forma de pensar.

Mas, será que outros compartilham comigo desta aflição?

Vou criar um novo blog dedicado à derrubada de tabus.

Vou me dedicar à derrubada de inverdades - tabus - que me chamam mais a atenção.

E vou convidar a todos a proporem a sua derrubada de outros tabus, a contestarem também a todos os tabus derrubados pelos outros autores.

Vai dar muito trabalho, com toda a certeza ...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Você já fala Google sem sotaque?


Já andei dizendo que se os gregos do V século a.C vissem como funciona o Google iriam colocá-lo no Olimpo lado a lado com Júpiter e com os outros deuses.

Nunca houve algo tão poderoso na Terra, nem tão capaz de promover o progresso da raça humana, no toque de alguns botões.

O problema é que você e todos nós precisamos aprender TODOS OS DIAS as novidades do Google.

É uma tarefa que tornará insignificantes todos os seus esforços nos anos de estudo, desde as primeiras letras até o doutorado.

Todo o conhecimento do mundo existente ou em formação está à disposição de quem for capaz de usá-lo.

Vou dedicar este ano de 2010 a me tornar um experiente operador do Google.

Detesto a ideia de que estou vivendo este momento e não sou capaz de usar nem um décimo do que o Google pode me proporcionar...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quando o You Tube estiver na sua TV o que vai acontecer com as TVs no mundo?




























Hoje mais ou menos 1 bilhão de pessoas vão acessar o You Tube de seus computadores.

As audiências dos programas de televisão, inclusive no Brasil, estão caindo e caindo ainda mais junto aos mais jovens.

Pela televisão, porém, o brasileiro assiste "grátis" uma obra prima quanto à produção, texto, atuação dos artistas, perfeita adequação quanto ao uso da mídia como vimos nos dois primeiros capítulos da novela Passione.

O You Tube que vinha também oferecendo "grátis" o mais completo acervo de imagens jamais imaginado no mundo, está começando a oferecer atrações pagas; coisa de menos de um dólar até perto de 6 dólares por programa.

Não conheço jovens - que acompanham séries de tv norte-americanas - que não as assistam antes da exibição na televisão baixando os capítulos no momento em que eles são disponibilizados na rede.

Logo, sem precisar usar mais do que dois neurônios, dentro de pouco tempo o normal será assistir o que cada um quiser na tela cada vez maior do aparelho de televisão, deixando para a tv transmitida por emissoras para as tarefas que lhe sejam mais adequadas.

Esportes, noticiário interpretado, e uma crescente interatividade.

Mas, quem vai pagar esta festa?

Os custos serão menores ou maiores do que os hoje existentes?

Caramba! Quanto custa cada capítulo de uma novela como Passione?

Como aferir o ROI de um comercial destinado a gerar lucros para um programa de alto custo para audiências menores ano após ano?

Estamos diante de uma bicicleta, acabada de ser inventada, que ninguém ainda sabe como andar, nem mesmo só para montar.

Sugiro que os próximos passos sejam dados em relação à interatividade.

A interatividade, porém, requer a transferência do poder de quem sempre foi a voz ativa para quem tem sido sempre a audiência passiva.

Coisa muito difícil, pois no momento em que a audiência se torna ativa ela passa a dar as cartas.

Aguarde, como eu aguardo, os próximos capítulos que serão imperdíveis.

Mas torne a sua audiência tão ativa quanto possa.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Mundo está pronto para ouvir o que você tem a dizer. Sugiro você enviar o texto para pioborges@yahoo.com



Diante de tanta beleza você tem algo a dizer? Então diga!


Tenho a certeza de que a terceira lei de Newton - toda ação corresponde a uma reação igual e contrária - não se aplica somente à física; ela se aplica ao dia-a-dia de todos nós.

É impossível acontecer algo (bom ou mau) sem que as pessoas opinem formal ou informalmente avaliando se aquilo foi bom ou foi mau a partir de suas próprias vivências.

Se houvesse a possibilidade de uma viagem no tempo – para qualquer tempo – e cada um de nós chegasse lá como “testemunha ocular da história” não haveria quem não desse uma nova interpretação ao que estava ocorrendo.

E devido a esta miraculosa visão de perto a possibilidade da história ser reescrita com a sua visão particular seria uma certeza.

Se você visitasse qualquer lugar em que a história foi escrita, aposto que ela seria virada de cabeça para baixo.
No entanto todos temos hoje, sem precisar viajar no tempo, a possibilidade de julgarmos e opinarmos sobre tudo o que ocorre da maneira mais livre já imaginada.

E estamos com a faca e o queijo, ou com o teclado e o mouse, nas mãos para dizermos para todo o mundo o que realmente está acontecendo. Ou não?

Já há uma legião de pessoas no Brasil que se manifesta todos os dias na seção de cartas da imprensa e nos comentários ao que é veiculado pela Internet.

Mas isto ainda é pouco. Você tem direito de ir bem mais longe.

Diante de tanta fartura de acessos a nosso alcance muitos e muitas evitam a participação no debate,” pois tanta gente já está fazendo isto que talvez não valha a pena ser apenas mais um”.

A julgar por alguns comentários publicados em sites há uma justificativa para a timidez: uma boa parte dos comentaristas não têm muita intimidade com a língua portuguesa.

Não se trata de demonstrar condições de entrar para a Academia, mas de saber a diferença entre o “a”preposição do “” verbo, o caso mais difícil, sem falar de palavras que mudaram de grafia ao longo dos anos.

Muita gente que quer opinar e tem boas contribuições a dar aos debates vai em frente deixando de lado estes cuidados com a língua.

Mas, acho que a maioria tem medo de arriscar-se diante do mundo.

Pois, em vários destes fóruns de debates, logo depois de um comentário com erros vem outro chamando o comentarista anterior de analfabeto para baixo.

E desacredita as suas boas observações devido à incapacidade do autor usar a língua portuguesa.

O que fazer?


Aqui vai uma proposta ousada: mande o que você quer dizer para o e-mail que criei somente para receber estas mensagens.

pioborges@yahoo.com

Darei uma penteada no seu texto e antes de publicá-lo no Liberdade Carioca com o nome do autor, o enviarei para você que concordará ou não com a forma penteada que terei dado a ele.

Se não concordar não publico.
Se concordar ele vai aparecer para todos.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Verdade e Mentira, as pessoas vivem, matam e morrem movidos por estas duas ilusões. Como escolher no que acreditar.



A idéia de colocar em debate este tema me chegou ao tomar conhecimento nos últimos dias das mentiras e desmentidos e das verdades relacionadas aos candidatos às próximas eleições presidenciais.

Dei-me conta de que estava assistindo um jogo em que o grande prêmio dos participantes é chegar ao mais alto cargo no país, e que mesmo não estando vinculado a nenhum deles, pelo menos até agora, o que diziam e o que deixavam de dizer irá afetar em muito ao meu futuro.

Isto ocorre porque cada vez mais este prazo de quatro anos à frente se torna um percentual maior do tempo em minha vida. Detesto imaginar seu desperdício devido à desatenção dos eleitores ao que ouvem, ao que lêem e ao que vêem.

Serra e Dilma (e mais a Marina) têm hoje em maio de 2010 a missão de tornar as suas verdades nas verdades compartilhadas pela metade mais um dos eleitores brasileiros com votos válidos.

Quem conseguir isto governará o Brasil para o seu grupo de fiéis.

E o pior:irão governar também para o grupo minoritário que não acreditou em suas verdades.

É a regra de nossa democracia com pouco mais de 200 anos, aprimorada pela eleição em dois turnos para que não haja dúvidas quanto à legitimidade do presidente: ele (ou ela) de fato e de direito é eleito pela maioria absoluta dos eleitores.

Mas para ser verdadeiramente democrático o eleito não pode governar apenas para o seu grupo, para o seu partido, para os seus partidários.

O sentido da democracia não é a eleição de uma ditadura da maioria renovável de tempos em tempos sobre um a minoria obrigada a engolir estas decisões e suas conseqüências por certo número de anos.

As resistências da oposição a este tipo de tratamento impedem que o bem comum seja alcançado e determina a demora para que decisões de bom senso não sejam vistas como “bandeiras” do grupo perdedor das eleições, e que por isto não sejam implementadas logo.

O processo para superar estas questões requer uma série de arranjos entre correntes políticas opostas em benefício do país como um todo.

O que vem ser a melhor definição de política.

A política porém é muito mutável. E o que se veja hoje como politicamente correto deixa de ser assim visto num passe de mágica.

Veja este exemplo bem simples e até simplista:

A Praça Paris, no centro do Rio de Janeiro, era um lindo recanto da cidade.

Era um ponto turístico imperdível para quem quisesse conhecer a beleza e bom gosto da Cidade Maravilhosa até meados do século 20.

As alamedas, os arbustos ,o lago, os repuxos , o gramado, as estátuas representavam toda a beleza desejada num parque público. Os fícus eram “esculpidos” pelos jardineiros com grande habilidade.Tinham formatos diversos e eram vistos como peças de alta criatividade de seus jardineiros.

Nos anos 60 foi criado o Aterro do Flamengo, separando a Praça Paris da Baía de Guanabara. No Aterro todos os jardins planejados por Burle Marx revolucionaram a arte de fazer jardins. Cada planta foi escolhida para – com a sua própria conformação, sem retoques – representar o verdadeiro jardim tropical.

Era uma verdade botânica contrapondo-se a uma mentira aceita e valorizada por todos.

Os jardins modernos decretaram em menos de 10 anos o fim da antiga estética.

Se a nova verdade se revelou num caso tão pouco controverso é fácil imaginar como neste mesmo período muitas outras verdades aceitas sem discussão sobre uma infinidade de temas foi derrogada sem que a maior parte das pessoas percebesse.

As eleições de outubro para nós serão mais um capítulo no grande confronto histórico brasileiro das verdades de um grupo contra as mentiras dos outros e vice-versa.

Um confronto, como comprova a nossa História,que tem sido não só a fonte de todas as discórdias como de todas as concordâncias obtidas. E obviamente o molde em que está formada a nossa sociedade.

A nossa verdade atual foi estabelecida sobre uma teia de mentiras, inexatidões, artifícios em cima dos quais dirigentes e a população geraram providências reais que ao se tornarem reais afetaram a todos, muito além do terreno das idéias e dos debates.

Uma gota de realidade vale mais do que toneladas de discursos, textos ou intenções.

Como aluno de direito fiz um “curso instantâneo de ceticismo” quanto à pureza dos testemunhos quando, após um simples incidente de rua assistido por uma boa parte da turma gerou tantas versões “detalhadas” e discordantes entre si quantos foram os alunos que o presenciaram.

Os depoimentos por escrito demonstraram melhor do que em mil aulas como o testemunho é antes der tudo falho.

Imagine quando os “incidentes” são testemunhados não por 30 alunos, mas por 130 milhões de “juízes/eleitores”! Cada um vê alguma coisa, e pode ser levado a vê-la com mais clareza quando o incidente é traduzido em sua versão mais adequada a um político de plantão.

Antes do uso do juramento sobre a Bíblia, como vemos em filmes, como forma de obter a verdade e apenas a verdade de uma testemunha este compromisso de se ater à verdade era obtido, como a palavra testemunho diz, colocando a mão (munus) sobre os testículos - testes próprios ou da pessoa que fazia a afirmação.

A mentira descoberta implicaria na perda dos testículos, uma ameaça bem mais próxima do que a que poderá sofrer quem minta depois de jurar dizer a verdade com a mão na Bíblia...

Não há, porém registro na história de quem tenha sido emasculado por ter mentido depois de jurar com a mão nos testículos.

E se esta prática fosse rotineira nas terras do Brasil teríamos ao longo de pouco mais de 500 anos de história produzido o maior contingente de eunucos com altos postos governamentais do mundo.

Se fosse um preceito mundial estaríamos diante de um mundo em que governantes não teriam filhos em todas as latitudes.

Por esta razão antes de mergulhar neste mar tempestuoso das verdades e das mentiras é preciso definir melhor o que estamos falando.

A verdade na mais sua mais simples e mais fácil definição é a correspondência entre o que ocorreu e a sua descrição.

(Coisa que experimentalmente como aluno de direito constatei não ser verdade.)

A mentira é exatamente a mesma coisa com os sinais trocados.

(Coisa que experimentalmente como aluno de direito constatei também não ser verdade.)

Portanto ao abordar o tema e diante de uma definição tão simples concluímos que a busca de uma definição sintética , simples, vai sempre nos levar ao erro.

O problema desta definição não é ser curta, nem simples. É deixar de fora os aspectos sutis que ajudam a entender muito mais precisamente o que se quer dizer quando se deseja chegar à verdade.

Ismael Silva (1905-1978) além de ter sido um sambista inspirado, e uma personalidade admirada por todos que o conheceram, era um filósofo natural, a forma como descreviam a sua atividade os filósofos gregos e todos pensadores que lhes sucederam até pelo menos o século 18.

Os praticantes da filosofia natural eram todos que se dedicavam a entender e explicar o mundo e as pessoas para si próprios e para os demais.

E foi exatamente isto que Ismael Silva fez com os seus parceiros, Nilton Bastos e Francisco Alves, num samba de 1931: Nem é bom falar. Em que falam com sutileza e profundidade sobre mentiras e verdades em poucos versos.

Quer ver?

Nem tudo que se diz se faz
Eu digo e serei capaz

De não resistir
Nem é bom falar
Se a orgia se acabar


A frase inicial que tornou o samba famoso e lembrado hoje 80 anos depois de seu lançamento é uma verdade incontestável : Nem tudo o que se diz se faz.

É um axioma que dispensa uma prova científica para comprovar a verdade nele expressa. O juízo humano sabe que de fato isto acontece. Basta ter convivido com outras pessoas e cada um terá testemunhado como o que é dito deixa muitas vezes de ser feito.

Todos nós deixamos de fazer o que dizemos que iríamos fazer.

Procuramos cumprir o que dissemos, mas nem sempre isto se verifica pelos mais diversos motivos.

Mas esta primeira frase assinala uma verdade que tende a obter o apoio de todos que a ouçam, não só em relação ao que esteja afirmando, mas como um salvoconduto para o que seja dito em seguida.

Uma segunda afirmação que se torna ainda mais verdadeira por estar apoiada pela palavra nem que ameniza a sua ênfase.

O samba não diz que as pessoas (todas) não fazem o que dizem que vão fazer. A frase ao começas pelo Nem a torna ainda mais verdadeira.

Mas, o samba prossegue com outro verso, uma promessa, um compromisso definitivo feito com o benefício de ter sido precedido de uma grande verdade aceita por todos:

Eu digo e serei capaz

É a retórica a que recorrem os candidatos que após alinharem fatos reconhecidos como verdadeiros fazem promessas para obter a confiança de quem lhes esteja ouvindo.

No segundo verso não há reticências, embora fique no ar a expectativa do que ele queira dizer com “ e serei capaz”.

Então o samba subverte tudo o que disse como verdade para complementar seu compromisso quanto ao que ele será capaz:

De não resistir nem é bom falar se a orgia se acabar.

Quem disse antes uma verdade e diz que disse uma verdade avisa que o que disse sempre estará sujeito a deixar de ser verdade “se a orgia se acabar”.

Em física esta orgia poderiam ser as CNTP, ou Condições Normais de Temperatura e Pressão.

Ou status quo, as condições existentes quando o compromisso foi feito, mas perfeitamente abandonado se as condições mudarem.

Se houver risco ao gozo e à fruição de vantagens desfrutadas no momento então todo o dito deixa de valer.

Diante destas possíveis mudanças estão enquadradas todas as verdades ditas, escritas , implantadas a ferro e fogo por todos os políticos, generais, líderes religiosos e nós mesmos.

Algo que podia ser apenas um tema ameno para este texto, mas que na vida prática tem levado milhões de pessoas à perder suas vidas, a mudar de país, a promover mudanças que nos afetaram a todos.

No Brasil estamos às vésperas de um plebiscito entre as verdades de Dilma e as verdades de Serra.

Quem as ouça vai decidir pelo voto democrático quem merece mais crédito para presidir o país. Numa escolha democrática.

Na frase anterior usei várias palavras com mais de 2000 anos retiradas da Grécia antiga que as criaram. Palavras que definiram nos últimos 200 anos a maneira mais bem aceita de fazer política para os bilhões de habitantes da terra.

Os gregos no quinto século antes de Cristo tomavam as decisões políticas, referentes à administração de sua pequena população em Atenas – quase um condomínio da Barra da Tijuca – pelo voto direto dos cidadãos reunidos na Ágora

Foi na Ágora que os cidadãos decidiram também quem deveria ser considerado como cidadão capacitado a votar.

Mulheres, jovens e escravos, (a maior parte da população!!!), não eram considerados cidadãos e portanto não tinham direito ao voto. Bela democracia!

Mas esta Democracia em seus primeiros passos delineou as suas virtudes e explicitou o seu maior problema: saber quem decide quanto à vida em sociedade. Em qualquer sociedade.

No Brasil as mulheres passaram a ter direito nacional ao voto em 1934, sendo reconhecidas como cidadãs a partir de um movimento surgido em Mossoró, no Rio Grande do Norte, logo após a primeira guerra mundial.

Bem antes de centenas de outros países do mundo.

Fomos o quarto país das Américas a estabelecer em Lei esta “novidade” de mulheres como cidadãs, 2500 anos depois da “invenção” da democracia na Grécia.

Antes do Brasil tiveram direito ao voto as mulheres do Canadá, Estados Unidos e Equador.

Os jovens acima dos 16 anos ganharam o direito de votar no Brasil na constituição de 1988.

Com estas medidas o Brasil é um dos maiores colégios eleitorais do mundo em que uma eleição realmente alcança e supera qualquer manifestação democrática em qualquer momento da história.

Nós somos 130 milhões de eleitores com direito e obrigação de votar numa população total de 190 milhões habitantes. Obter a maioria dos votos desta multidão consolida a escolha do eleito, ou da eleita.

Numa outra grande democracia do mundo, os Estados Unidos da América, o total de eleitores registrados em 2008 era de 130 milhões de pessoas para uma população de 300milhões de habitantes também em 2008.

Por incrível que pareça a densidade eleitoral no Brasil (130 milhões de habitantes em 190 milhões na população) é bem mais alta do que a dos EUA (130 milhões de eleitores para uma população de 300 milhões de habitantes).

A Índia com mais de um bilhão de habitantes e um sistema eleitoral quase incompreensível para nós (pois tem de acomodar diferenças profundas de suas etnias conflitantes) tem pouco mais de 200 milhões de eleitores de variados partidos que se matam regularmente a cada novas eleição.

O Brasil portanto aparece muito bem na foto, mas isto para nós é também um grande risco: pois a verdade aceita como tal pela maioria elege uma pessoa compromissada em obrigar às demais pessoas a aceitar providências contrárias a seus interesse manifestado nas urnas.

Mas, esta oposição e este conflito de interesses diante da verdade das ações governamentais não são novidades, nem exceções no Brasil, nem fatos que se tornaram mais problemáticos em certas épocas e menos importantes em outras épocas.

Aquela piada de que as coisas funcionam aqui por que Deus é brasileiro parece cada vez menos uma piada e um verdadeiro pistolão celestial para explicar a nossa história desde que passou a ser registrada.

Como um país “achado” por uma esquadra de um país católico que exibia a “Cruz de Malta” na velas de todas as suas naus e caravelas, “batizado” de Vera Cruz muda de nome para Brasil em pouco mais de 30 anos após a viagem de Cabral?

O nome de verdade, Vera Cruz, é mudado para o nome de mentira Brasil numa das histórias políticas e diplomáticas mais fascinantes. Algo que podemos examinar em outros textos.

Neste o que vale mais acentuar é que a nossa verdade atual, representada por tudo o que aqui existe, inclusive eu, você e sua família somos resultantes de uma infinidade de mentiras que não cessam de ser criadas e implementadas todos os dias.

O Roberto, meu filho, ao falarmos sobre este tema, disse uma frase muito boa, por me parecer tão verdadeira como a do samba do Ismael Silva:

Não adianta procurar a verdade, o que devemos buscar é a melhor mentira.

Um caso a pensar...

terça-feira, 27 de abril de 2010

Na Indonésia os policiais não podem matar a cobra e mostrar o pau - se for grande


Este não pode ser policial em sua terra

Esta notícia recebi hoje via Reuters que tem um serviço dedicado a informar sobre coisas estranhas.

Por poder causar constrangimento durante exercícios (acho que o cara fica desequilibrado) e talvez por assustar seus companheiros menos dotados nos vestiários, a Polícia e o exército locais dispensam os candidatos que tenham se submetido a procedimentos para aumentar o pênis. Como o papuano da foto.

Se você achava até agora que estas estranhas propostas chegadas como spam eram pura vigarice já pode começar a rever seus conceitos.

Na Indonésia não só funciona como o resultado gera uma confusão em público, apesar de ser um costume milenar.

Reproduzo a notícia em inglês a seguir. Você verá que este aumento de pênis no país é coisa comum mas exige um processo assustador em que a ida do candidato à ilha de Papua é essencial. Já sabendo que vai doer ...pa ca.

Leia e veja o que ocorre:

(Reuters) - Forget about getting a job as a police officer in Indonesia's Papua if you have had your penis enlarged. You won't get it, according to local media reports citing the Papua police chief.

An applicant "will be asked whether or not his vital organ has been enlarged," said Papua police chief Bekto Suprapto, quoted on local website Kompas.com.

"If he has, he will be considered unfit to join the police or the military."

The ban was applied since the unnatural size causes "hindrance during training," said police spokesman Zainuri Lubis in Jakarta, quoted by news portal Detik.com.

Indonesia's remote easternmost province is home to Papuan tribes, many of whom are known for wearing penis gourds.

A low-level separatist insurgency has waged in the resources-rich part of Indonesia for decades and there is a heavy police and military presence there.

Papuans use a local technique to achieve the enlargement, according to a sexologist quoted by local newspaper Jakarta Globe, wrapping the penis with leaves from the "gatal-gatal" (itchy) tree so that it swells up "like it has been stung by a bee," the expert said.


(Reporting by Olivia Rondonuwu; Editing by Sara Webb and Sanjeev Miglani)

Oddly Enough


Note que as jornalistas que prepararam a matéria tiveram apenas um colaborador marculino para escrever o texto. Isto é se Sanjeev for mesmo nome masculino como acho que seja.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Barafunda teu nome genérico é BRICS, ou melhor RICs.



Há poucos meses a TV brasileira exibiu a novela Caminho das Índias, que não vi, mas que todo mundo viu e teria transformado todos os brasileiros em especialistas na região, seus hábitos, sua religião, suas danças, etc.

Isto não aconteceu nem de perto nem de longe. A Índia é impossível de ser entendida em simples explicações. E muito mais difícil ainda se você decidir conhecê-la em detalhes.

A Índia em nossas cabeças com certeza tem algumas raças diferentes uma das outras que convivem mais ou menos harmoniosamente, num vasto país de um bilhão de habitantes, não è?

Há indianos que usam turbantes, outros que não usam, outros que vivem meditando, outros que tomam banhos no Gânges, sem ligar para o fato do seu vizinho de banho, logo ao lado, esteja fazendo as suas necessidades fisiológicas numa boa...

A informação real. A Índia é uma miscelânea de elementos políticos, religiosos e raciais que tendem ao conflito em função de atitudes que para nós brasileiros parecem sem sentido.

Convivem na Índia 45 raças dispersas em 2400 castas e tribos que não se comunicam entre si em 225 grupos lingüísticos.

Se você pensava que os dalits eram os intocáveis e os demais eram todos de castas superiores não poderia imaginar que havia mais de 2000 outras castas.

As línguas faladas na Índia são em parte compreensíveis entre si, mas a maioria precisa de legendas em seus filmes para que outros indianos possam entender o que está sendo dito.

Há menos de um ano, a REPENSE recebeu em São Paulo a Sharada, uma premiada diretora de cinema indiana. Conversamos e busquei naqueles breves momentos ouvir o relato descompromissado de quem convive com este mundo.

Ela foi jurada em Festivais de Cinema em seu país em que os filmes de Bollywood (a Hollywood indiana) disputam com os filmes feitos em três outros centros a preferência dos espectadores.E a premiação indiana tal como ocorre com o Oscar.

Só de línguas em que os filmes eram feitos havia 26. E eram faladas por gente suficiente para justificar os investimentos na produção de filmes. Mas, para serem julgados estes filmes precisavam ser legendados.

Exagero? Não, a própria Sharada mora num lugar e trabalha em outro distante menos de 100 quilômetros da porta de sua casa. Ela vai de carro e atravessa uma faixa de terra de outra região em que a língua e a escrita são diferentes.

Ao cruzar esta fronteira Sharada não entende nada do que está escrito nas placas, e se fosse comprar alguma coisa em lojas ou estabelecimentos teria de usar o inglês para ter uma chance de ser entendida.

Só para recordar Ghandi ( 1869 – 1948) morreu assassinado depois de ter conseguido a Independência da Índia da Inglaterra e de ser visto como uma espécie de novo santo no mundo, inclusive no Brasil onde os filhos de Ghandi formam um poderoso bloco carnavalesco. Coisa impensável na Índia.

Se você acha que há uma “guerra civil” nas ruas das capitais brasileiras faça uma visita às matérias mais atuais sobre a Índia.

A China e seus líderes

A China cresce e continua a crescer demonstrando na prática que as boas intenções da democracia, pregadas e repregadas nas boas escolas ocidentais, não precisam ser tão consideradas para um país dar certo.

A questão da invasão do Tibete, a expulsão do Dalai Lama, as exigências quanto ao tratamento dispensado a ele nos outros países são conceitos ideológicos consistentemente colocados diante do mundo. Pois a China exige que os países com que mantem relações não mantenham relações com a antiga China Nacionalista , na ilha Formosa.

Para entrar na ONU, como representante única dos chineses, todos os países membros tiveram de declarar o apoio formal à reintegração da Ilha Formosa ao território chinês.

Dentro da China há mais de 200 grupos étnicos conflitantes, mas rigorosamente controlados pelo poder central num país com 1 bilhão e 300 milhões de habitantes.

E a Rússia?

A Federação Russa tem 31 línguas além do russo e convive com (veja o caso do Kosovo) toda a constelação de países anteriormente integrados à União Soviétic. Uma "salada russa" com características nacionais conflitantes de vizinhos, com os vizinhos dos vizinhos e,pior ainda, com a Rússia que usa processos muito diretos para acabar com estas disputas: pancada usando forças militares poderosas.

Tanto a Índia, quanto a Rússia e a China têm arsenais nucleares e foguetes com capacidade teórica de jogar bombas em qualquer lugar da Terra.

O Brasil se acha capacitado a obter acordos entre países pelo processo da diplomacia olho no olho preconizada pelo atual presidente.

No entanto, o grande trufo do nosso país, ao fazer parte deste grupo (que só se tornou um grupo por decisão do economista que viu oportunidades novas neles) , é o fato de sermos efetivamente um país.

Não que os outros não sejam, mas em nosso caso não há divisões sérias, nem grandes ameaças à unidade por parte de qualquer região.

Barafunda é uma palavra portuguesa cujo significado é grande bagunça, confusão, desorganização, coisa inadministrável.

O Brasil para chegar às barafundas nacionais dos três outros cantos dos BRICs vai ter de se esforçar demais. E dificilmente vai conseguir...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Economistas iconoclastras valorizam a filosofia natural em sua ciência: o primeiro deles demonstrou como ganhar dinheiro com previsões corretas.












Outro fato notável – devia chamá-lo de fato relevante - com uma importância infinitamente menor diante das constatações do Marcelo Gleiser (ver postagem anterior) - estava nas páginas amarelas da revista Veja numa entrevista iconoclasta do economista Robert Shiller, um professor da Universidade de Yale que acaba de publicar pela Campus/Elsevier o livro O Espírito Animal em co-autoria com George Akerlof (prêmio Nobel de economia).

Ambos se dedicaram a destruir o mito de que os mercados se regem por leis puramente matemáticas pouco relacionadas com as percepções das pessoas.

O livro, a entrevista e o que eles dizem é uma revolução, pois, durante muito tempo o nicho dos economistas foi preservado como um santuário com regras próprias, herméticas, e, portanto pouco acessível às análises e às críticas dos leigos. Algo muito próximo de uma religião apoiada em verdades indiscutíveis.

Somente no início do século 20 a palavra economista começou a ser usada embora Fan Li por volta do ano 490 a.C seja indicado como o primeiro dos economistas. Fan Li era conselheiro do rei Gouijuan na China e disse (deixando registro do que disse) que era necessário comprar por menos e vender por mais para que os países pudessem existir. Viva o Fan Li, pois a sua recomendação continua verdadeira até hoje.

Daí os economistas do passado - sem este nome - foram todos que se detiveram sobre como ganhar dinheiro. Thales de Mileto, que viveu na mesma época e foi reconhecido como o primeiro dos sete sábios da Grécia também deve ser reconhecido como um economista, e até mais:elefoi primeiro economista que aliou a teoria à prática e ganhou muito dinheiro.

Thales era um atento observador dos astros e dos ângulos em que podiam ser vistos e foi o primeiro a predizer um eclipse, com absoluta precisão em 585 a.C.. A sua capacidade de dizer o que iria ocorrer no céu e acertar foi considerada por Aristóteles, alguns anos depois, como o data de nascimento da Filosofia.

Hoje em dia, sem a menor dúvida, Thales seria considerado o “cara” na Grécia, onde a ausência de uma cabeça como a dele está sendo chorada por todos os gregos e pelos demais europeus que vão perder muito dinheiro com o “eclipse” econômico do país agora.

Mas, além de prever o eclipse, Thales previu que diante das condições climáticas de um determinado ano que a safra de azeitonas seria imensa.

Antes de dar a notícia a toda a população, como havia feito em relação ao eclipse, ele usou a sua própria inside information e arrendou todas as prensas de azeite da região.

Quando a safra realmente se revelou imensa o azeite só poderia ser extraído nas prensas de Thales, que demonstrou na prática como se podia ganhar muito dinheiro com o uso de informações não disponíveis para todos...

Thales seguiu os conselhos de Fan Li: alugou as prensas por menos do que este aluguel iria custar quando todos precisassem prensar as azeitonas e tornando-se assim o rei do azeite em Mileto.

Sábio + tino para negócios = a economista antes de a profissão existir formalmente.

Thales foi reconhecido durante a sua vida como o mais sábio dos sábios e na minha visão como o primeiro economista com a visão dos interesses humanos como prioridade que faltou ao grupo dos economistas criticado por Shiller e Akerlof.

Shiller e Akerlof concluíram em seu livro que os profissionais da economia sofreram nos últimos anos um processo de autoconvencimento coletivo interesseiro que resultou na catástrofe na economia mundial de 2008.

A economia – ao posicionar-se como uma atividade em que o dia-a-dia do comum das pessoas não era tomado em conta - como acusam os autores do O Espírito Animal – pecou ao ignorar a filosofia natural.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Data Venia, você hoje tem se ser iconoclasta. E dar graças a Deus por isto...


Desde 2007 eu fundi a PB, uma agência de comunicação dirigida fundada por mim e pela Vivian Fasca com a REPENSE, criada e instalada em São Paulo pelo Otávio Dias.

O nome da agência é uma declaração de propósitos, uma afirmação quanto à maneira de fazer publicidade (comunicação com o mercado) que me fascinou desde a primeira vez que conversamos sobre o novo empreendimento.

Há já pelo menos uns 20 anos tinha consciência de que o negócio de prestar serviços de comunicação para organizações deveria ser muito mais abrangente do que vinha sendo praticado e aprimorado ao longo do século 20.

Pois o século 20 trazia tantas modificações ao que se fazia e ao que deveria ser feito que a propaganda deveria refletir este fato.

Até por não encontrar (ou ser incapaz de achar...) espaço para os debates técnicos “neutros” e acadêmicos em outras respeitáveis associações fui um dos fundadores da Associação Brasileira de Marketing Direto (ABEMD) eleito como o seu primeiro presidente quando ainda se chamava Instituto Brasileiro de Marketing Direto, IBMD.

Conto esta história toda para demonstrar a necessidade – muito além da área de comunicação com o mercado – de sermos iconoclastas hoje.

Em 1976. quando foi formada, a ABEMD congregou os profissionais e as empresas dedicadas ao marketing direto empenhados todos em estabelecer novas oportunidades de trabalho num mercado em evolução. Éramos iconoclastas.

Ser iconoclasta em nossa época, como foi em 1976, é muito mais fácil do que quando o termo foi criado por volta do ano 700.

Iconoclasta eram os cristão dedicados a quebrar imagens (ícones) que representavam Deus e os santos e eram veneradas com o mesmo ardor dedicado ao Deus católico e aos santos.

Algo que estes cristãos garantiam que não estava previsto e ao contrário era proibido nos evangelhos.

O que poderia ser algo tão simples quanto fundar uma associação teve consequências muito mais sérias para os que defendiam e os que reprovavam as imagens.

Prisão, condenação à morte, excomunhão eram consequências muito mais dolorosas do que uma identificação de “marqueteiros diretos” num ambiente em que a maioria era reconhecida como “publicitários”.

Nos últimos dias ocorreram fatos que me levaram a escrever este texto e a propor o desafio no título para você que o lê qualquer que seja a atividade a que se dedique:

É impossível nos dias em que vivemos - e nos dias que vamos viver – deixarmos de ser iconoclastas. Se decidirmos nos conformar com o que existe estaremos abdicando da maior vantagem de sermos humanos, racionais, de estarmos vivendo nesta época e dispormos de tantas informações.

Um destes fatos foi o lançamento do livro de Marcelo Gleiser, CRIAÇÃO IMPERFEITA, Cosmo Vida e o Código Oculto da Natureza, pela Editora Record em um evento com direito a uma palestra do próprio Marcelo sobre o tema der seu livro.

Marcelo é brasileiro, carioca, criado em Copacabana, formado pela PUC em física, autor de livros de divulgação científica notáveis, como A dança do Universo e O fim da Terra e do céu e dirigente de um grupo de pesquisa em física teórica no Dartmouth College, nos EUA onde é professor de Filosofia Natural e de Física e Astronomia.

Filosofia Natural era o nome admitido para a ciência até o século 19. Quem se dedicava a estudar o que fazia o mundo existir não recebia o rótulo de cientista, e sim de filósofo natural, uma denominação a que se atribuíam os gregos desde o 5º século antes de Cristo.

Aristóteles, Platão, Sócrates e todos os demais pensadores sobre o mundo e as pessoas eram filósofos naturais.

Newton que foi considerado o primeiro cientista a identificar a “lei da gravidade” ao analisar o que ocorria com os corpos em queda e ao definir os princípios matemáticos relacionados a isto, chamou o seu livro de Philosophiae Naturalis Principia Mathematica . Os princípios matemáticos da filosofia natural.

No livro de Gleiser, lançado pela Record em 2010, em 360 páginas ele se compromete a não utilizar fórmulas além da E=mc² e a explicar todos os termos técnicos inacessíveis ao leitor leigo, e promove o mais violento terremoto sobre o conhecimento científico, sobre a sua vida, a religião e a filosofia desde que Kepler, Copérnico e Galileu demonstraram (correndo grandes riscos de vida) que a Terra não era o centro do Universo, e que ao girar em torno de seu eixo fazia ocorrer os dias e as noites. O sol não nascia no leste nem morria no oeste todos os dias.

Foi um choque terrível acordar num dia como centro do universo que girava em nossa volta, criado pelo nosso Deus, que nos havia feito à sua imagem e semelhança para nos beneficiarmos de tudo aquilo desenvolvido sob medida para a nossa fruição em vida e após a vida e ir dormir no mesmo dia como habitantes de um planeta que girava em torno do sol, este sim, o centro do universo.

No livro do Gleiser ele dedica o vigor de um jornalista diante da maior reportagem que pudesse apurar a demonstrar que a busca durante 25 séculos da Teoria do Tudo é destituída de sentido.

No ano de 2010 da mesma forma dramática que os homens perderam seu status de centro do universo há 400 anos, nós agora – talvez como a única forma de vida provada e inteligente do universo – nos vemos completamente dissociados das disposições positivas ou negativas de divindades de qualquer espécie.

A iconoclastia de Marcelo Gleiser em 2010 propõe algo mais do que quebrar a imagem de Deus. Ele questiona a existência de qualquer força que se assemelhe a divindades de qualquer espécie.

Há apenas quatro séculos os interessados nas pesquisas de Copérnico, Kepler e Galileu se viram destituídos da honra de estar no centro de um Universo criado por Deus em seu benefício.

Hoje em 2010 nos vemos diante da muito terrível situação de destituídos de todos os deuses, devendo as nossas vidas, a nossa evolução, nossas qualidades e nossas falhas a resultantes aleatórias de cadeias de vida formadas e mantidas há bilhões de anos.

Cada um de nós é descendente direto da célula viva inicial cujo rastreamento algum dia talvez seja identificado em nosso organismo.

Uma herança da qual nos orgulharemos de forma muito mais entusiástica do que quando vemos o nome de nossos antepassados diretos em registros de uma história recente.

Marcelo, mesmo diante do mundo sem um Deus criador de tudo e zeloso interessado nos destinos de sua criação, reconhece que neste momento ao contrário de sermos diminuidos ganhamos uma nova importância superior a tudo o que se possa imaginar.

Mas, vai ser muito difícil admitirmos mais esta diminuição de nosso status diante do Universo.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

James Cameron é contra a hidro-elétrica de Monte Alto. Ora direis...

Non sequitur é a expressão latina tão antiga quanto as ruinas de Roma para identificar conclusões que não têm relação com as premissas.
Esta Usina de Monte Alto, que uma vez construída e em operação vai gerar mais de um terço da energia elétrica do Brasil , está com a sua construção embarreirada desde os anos 70.
O seu lago será extenso e irá inundar florestas no Pará, populações locais - indígenas e não indígenas - deverão ser deslocadas, e cuidados maiores terão de ser dados à fauna.
Ocorre que a energia gerada lá assegurará ao Brasil vantagens extremamente valorizadas ao longo deste século. Nenhum outro país terá ao mesmo tempo a possibilidade (terras) de gerar alimentos, e nenhum outro país terá condições de gerar a energia para transformar matéria prima em riqueza - e portanto em poder.
O Cameron é um excepcional realizador de filmes, um excepcional ex-marido de realizadora de filmes, mas não tem qualquer qualificação que o torne uma autoridade nesta questão de construir usinas.
POis bem, montado em sua fama de cineasta ganhador de Oscars ele escreveu uma carta ao Lula aconselhando-o a impedir a construção da Usina de Belo Monte.
Duvido de seus motivos, de sua motivação, duvido mais ainda de quem o apoie.
A carta do Cameron é umm caso vivo no século 21 de um non sequitur.
Entendo muito de fazer filmes
Meus filmes conseguem grandes audiências e dão muito lucro
Logo posso falar sobre qualquer coisa e todos deverão acatar o que eu disse

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Terra NÃO É dos Homens!


Falar o óbvio quase sempre depõe contra quem se dedica a isto. Afinal de contas, se o óbvio é óbvio, para que perder tempo falando coisas óbvias?

O problema é que frequentemente o óbvio se perde, cercado de outras informações que afastam o óbvio de nossa atenção.

Com paciência convido a você para acompanhar este exercício sobre o que considero óbvio, mas você poderá concluir que há controvérsias.

Comecei a reler um livro do James Michener (1907-1997), Centennial. E sempre que leio algum livro de Michener me deparo (e invejo) com a forma super abrangente como ele aborda um texto sobre qualquer coisa ou lugar

Michener parte sempre do princípio, algo que seria óbvio não é?

No caso de Centennial, como de muitos outros livros dele com mais de 1000 páginas, Michener começa com a formação do mundo, há bilhões de anos no local da história. Passa por todas as eras geológicas, relembra os mares quando os mares ocupavam aquela área e segue demonstrando todas as mudanças que se seguiram e vieram a se modificar várias vezes até chegarem aos dias atuais. E que terão importância em relação ao que acontecerá no dia-a-dia dos personagens humanos presentes da sua hístória.

Não vou falar sobre o livro, mas sobre um fato óbvio que decorre da leitura do que ele diz,e de como ele diz:

Da mesma forma que antigos moradores de um cidadezinha são ouvidos para dar uma dimensão histórica ao lugar; coisas como informações sobre o local em que começou alguma tradição, quem a fez notável e assim por diante, Michener que não era geólogo, ou ligado à ciência, transforma o leitor de seus livros num velho morador do mundo com uma memória abrangendo uns 4 bilhões de anos!

Ele começa antes da formação da vida, e nos mostra como a Terra tem como programa irrecorrível mudar e mudar muito e sempre ao longo dos anos.

Não são mudanças determinadas por alguém, ou por deuses. Não são mudanças passíveis de serem julgadas como justas, ou injustas por critérios desenvolvidos pelos homens ao longo de sua história.

A Terra muda por que convive com tantas variáveis em sua estrutura geológica e na sua posição no espaço que seria impossível não mudar. Mesmo que houvesse um grande poder determinado a manter tudo como está.

Quando se passam apenas 100 anos Copacabana deixa de ser um areal à beira mar cercado de montanhas e se transforma no que é hoje. Quando os anos passam a ser contados em centenas ou milhares as mudanças são imensas. Quando são contados em milhões de anos toda a nossa perspectiva de tranquilidade, serenidade, segurança obviamente vai por água abaixo.

Desde a separação da Pangeia, as mesmas placas tectônicas que promoveram a viagem de pedaços de terra tornados nos continentes atuais continuam ativas (vide terremoto do Haiti) e mudando os continentes de lugar. As mudanças não vão ocorrer. Elas continuam a ocorrer.

É sempre bom lembramos que temos abaixo de nossos pés (e apenas a alguns poucos milhares de quilômetros abaixo) a mesma massa ígnea que salta dos vulcões. Toda aquela sopa incandensente , tem a mesma receita da sopa dos primeiros minutos da Terra, E que determinou em momentos de diversos as erupções e resfriamentos tudo o que vemos à nossa volta.

E que geologicamente não há qualquer impedimento para que em algum lugar perto ou longe de nós não ocorra uma mega explosão de lavas a qualquer momento.

Este planeta, cujas condições físicas e químicas ensejaram o surgimento da vida e em especial da nossa vida, é exemplo da aplicação prática de um provérbio árabe:

Os cães ladram e caravana passa.

Em cada um de nós - seres humanos - abrigamos alguns bilhões de bactérias. Há mais bactérias convivendo em nosso intestino, e somente no nosso intestino, promovendo a digestão e absorção do que comemos, do que o total de células vivas em nosso corpo.

Somos viveiros de bactérias invisíveis para nós - por isto deixando de ser uma presença óbvia para nós - e a convivência destas bactérias em nós permite que tenhamos um estado de saúde.

Há registros de bactérias em rochas com 3,7 bilhões de anos. Elas não só são as primeiras formas de vida como são a forma viva mais bem sucedida.

Nós homens somos uma forma muito bem sucedida (em nossa opinião) de como estas bactérias velhas de guerra conseguiram varar os bilhões de anos e estarem tão bem de saúde.

Temos em cada um de nós a síntese da evolução de TODAS as espécies.

Sem bactérias nenhuma forma viva poderia ter sido criada, evoluída ou formada. Por isto em qualquer lugar da Terra examinado com um microscópio eletrônico você vai encontrá-las ocupando todos os espaços. Do meio do deserto mais seco (o Saara já foi fundo de mar) até ao ponto mais profundo dos oceanos ao buraco mais gelado dos polos encontramos sinais das bactérias.

Só para ter uma medida de comparação, as sondas espaciais enviadas a Marte, e que depois de lá terem pousado com sucesso fizeram de tudo para analisar o solo do planeta não encontraram qualquer sinal de vida. Esguincharam jatos de água no solo em cavidades abertas por pazinhas mecânicas comandadas da Terra diante de um espectrógrafo capaz de analisar todas as substâncias ali depositadas.

Em Marte não foi encontrado qualquer sinal de vida. Muito menos de marcianos espertos capazes de fabricarem discos voadores e virem conquistar outros mundos.

No seu planeta não surgiram as nossas santas bactérias em momento algum. E sem bactérias e todas as mudanças por que passou em bilhões de anos a Terra não há possibilidade de marcianos. Nem venusianos, nem mercurianos, nem vizinhos espaciais de qualquer espécie.

Mas, ao longo dos últimos bilhões de anos a nossa Terra das bactérias foi mudando: nossa espécie dos homo sapiens surgiu (há uns 200 milhões de anos apenas) e por termos aprimorado o nosso cérebro somos capazes de pensar, de imaginar coisas - e começamos a considerar como nosso por concessão divina o planeta que nos propiciou a vida.

Numa foto da Terra vista do espaçoo vemos um bolão recoberto de nuvens. E não vemos gente.

Há alguns sinais de nossa atividade nas luzes acesas à noite nas grandes regiões urbanas, pela muralha da China, e nuns poucos sinais aqui e ali, mas evidentemente não vemos o homem e muito menos as bactérias.

O que nós vemos é a Terra numa aparente imutabilidade. Uma imutabilidade que será tudo o que poderemos ver ao longo de nossas curtas vidas diante do retrospecto de bilhões de anos para trás e de outros tantos bilhões de anos para a frente.

A capacidade de pensarmos nestes tempos (à partir de nossa vida efêmera) é um privilégio que carrega consigo o contrapeso da razão da maneira mais dura.E que nos leva desejar esquecer estas coisas do que conviver com elas em nosso dia-a-dia.

Quando crianças todos nós nos achávamos eternos. O primeiro grande choque da vida pensante é descobrir por volta dos 7 ou 8 anos que um dia se irá morrer como morriam as demais pessoas sobre as quais se lia em livros e jornais.

A luta para levar este terrível momento para o mais longe possível foi o motor da evolução humana.

Desde a reprodução da espécie à sua preservação em condições de higidez da melhor forma possível em cada lugar.

Entre os seres humanos que formam a tribo dos ianomânis no alto rio Negro, estes dois objetivos basilares - a reprodução e a preservsção da vida hígida - se faz da mesma forma há pelo menos uns 10 000 anos. Nada mudou a rotina da tribo nestes últimos 10 000 anos. Não se dedicaram a fundir metais, criar ferramentas, nem coisa alguma que desviasse a atenção e os esforços do grupo para nada além da tarefa de reproduzir e preservar as suas vidas.

Entre outras tribos, (inclusive a nossa urbana que nem vemos mais como tribos), a mutação é contínua e a duas necessidades basilares têm passado por reprogramações muito intensas, E até muito mais intensas nos últimos cem anos.

Entre a disposição de nada mudar dos ianomânis e uma sociedade ávida por novidades leva os seus integrantes na tribo urbana quase sempre a ter o impulso de preservar todos os confortos alcançados. Sem pensar em mudanças.

Há a lei do menor esforço. O deixa como está para ver como é que fica. O não mexa em time que está ganhando. A moeda tornou-se uma ferramenta essencial para comprar o acesso a boas condições para o dia seguinte, para semana seguinte, para o mês seguinte, para o ano seguinte.

Para assegurar que os frutos da reprodução, pelo menos durante algum tempo, poderão manter os seus confortos mesmo quando o gerador de riqueza deixar de existir.

Para assegurar o convívio harmonioso ou menos arriscado entre tantos bilhões de habitantes em toda a Terra a espécie humana em todas as tribos criou leis genéricas aplicadas a tudo o que se pode e o que não se pode fazer.

Desde disposições que tinham de ser seguidas no passado distante por terem sido ditadas por deuses, cuja fiscalização abrangia todas as atitudes públicas ou privadas da pessoa, até as disposições registradas em leis para estabelecer como tudo devia ser feito em qualquer sociedade e quando fosse mal feito, como deveria ser resolvido o problema pelo grupo humano com o mínimo desgaste para as partes.

Quanto mais leis e contratos mais claro se tornava que nada poderia haver que não fosse determinado por alguma providência humana.

Os efeitos desta expectativa foram muito além dos homens.E vieram a afetar todas as coisas existentes na Terra. Que passou a ser legislada pelos homens.

Foram estabelecidas fronteiras na vida pessoal, na vida das comunidades, na convivência entre as sociedades. Os rios, em cujas margens sempre os animais de qualquer espécie se fixaram, tiveram o seu uso regulado e com estas regras foram reconhecidas as rivalidades.

O uso do solo, e do que poderia ser feito ao que nele se encontrasse criou a base do direito e a necessidade de registrar todos os atos dos homens em relação ao que faziam ou deixavam de fazer.

Até às bactérias, inseridas em todos os seres vivos ao longo de milhões de anos e sob um ponto de vista bem prático as legítimas proprietárias de todas as formas vivas, inclusive de nós - foram afetadas pelos homens.

As bactérias sob determinadas circunstâncias - provocavam sem que se soubesse serem elas a causa - a morte prematura dos homens.

Desde que elas foram identificadas pelo inventor do microscópio nos anos 1600 os homens começaram a mudar a vida das bactérias em busca da extensão de suas próprias vidas.

Estas informações quando intensamente compartilhadas entre os homens induzem a certeza de que nada que aconteça deve ocorrer sem a intervenção a favor ou contra dos homens.

Doentes recorrem a médicos e a hospitais onde buscam a extensão de sua vida hígida,assim como estes mesmos cidadãos definem de tempos em tempos que segmentos de seu grupo vão conduzir os destinos de suas regiões, quais devam ser as leis novas a serem redigida e quais leis antigas devam ser substituídas.

Quando não há a possibilidade de isolamento das demais comunidades humanas - como é o caso dos ianomânis - as mudanças e a empolgação diante das mudanças demandam grandes esforços sob um prisma humano.

Enquanto um ianomâni precisa ao longo de sua vida deslocar-se por seus próprios meios (andando, navegando em embarcações feitas por eles próprios e movidas por seus braços) os seres humanos intensamente envolvidos entre si deslocam-se por toda a terra em aviões, carros e navios que requerem uma infinidade de serviços e obras adicionais para poderem existir. E muitas leis e regulamentos.

Tudo isto se contrapõe à simplicidade dos ianomânis e desenvolve a certeza de que não há nada poderia existir fora deste contexto.

Há evidência bem explicada por Michener de que tudo que existe na Terra depende apenas da Terra e praticamente nada na Terra depende dos seus habitantes. Qualquer que seja a sua espécie.

Quando ocorrem os grandes desastres naturais, como furacões, chuvas intensas, desmoronamentos, terremotos, erupção de vulcões isto se torna muito visível. Mas, rapidamente estas informações são deixadas de lado, pois outras notícias aparecem a cada segundo.

Ao longo dos bilhões de anos, e dos milhões de anos a que sempre se refere Michener para contextualizar seus livros, há uma conclusão óbvia indiscutível: nada do que aqui existe é definitivo. Nem perto disto.

Tudo é mutante, como são mutantes as crenças dos homens em relação a tudo no que acreditam.

Para justificar este texto peço a atenção para o seu título: A TERRA NÃO É DOS HOMENS.

Na verdade os homens é que são da Terra.

Em contraposição a movimentos centrados numa onipotência do homem que pretende determinar - sem espaço para dúvidas - o que deva ser feito para que a Terra dos Homens se preserve creio que devemoa nos conscientizar de que nós é que somos da Terra.

Isto cria um respeito muito mais profundo dos homens em relação ao astro que lhe proporcionou viver.

Protágoras, que viveu por volta do período em quer surgia a religião cristã, disse o seguinte:

"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são."

A frase é intrigante, especialmente quando fala das coisas que não são, mas revela que Protágoras, por valorizar a sua capacidade de pensar via nesta capacidade a ÚNICA forma dos seres humanos avaliarem o mundo.

Uma bactéria mais esperta e pensante poderia ter dito a mesma coisa em relação às bactérias, mas não disse por não saber dizer como nós homens somos capazes de dizer.

E por sabermos dizer podemos dizer coisas certas e coisas erradas. Coisas muito certas e coisas muito erradas.

Pena que o nosso período de poder dizer seja tão pequeno em relação a todo o tempo do mundo...


edrra

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Antes foi o Corvo, hoje falo do gato Oscar e o terror aumenta...


No "Por quem os sinos dobram" do Hemingway havia uma cigana em meio aos combatentes na Espanha que "sentia o cheiro da morte" nos soldados. Eles não estavam doentes, nem feridos, eles simplesmente poderiam entrar em combate no dia seguinte, ou nos dias seguintes.E quando ela sentia o cheiro, com certeza não iam voltar.

Ela, se não me engano, Pilar, sabia que aquela pessoa iria morrer.

Agora eis que surge um gato chamado Oscar adotado ainda como um gatinho de um depósito municipal de animais abandonados pelo Steere House Nursing and Rehabilitation Center de Providence, Rhode Island nos Estados Unidos, com habilidade igual.

Oscar nada tinha de estraordinário como gatinho , a não ser uma falta de disposição de ser amável com estranhos, o que não é incomum em gatos.

Só que o Oscar, devido à repetição de um gesto constatado pelos funcionários da Steere, sempre fazia questão de deitar-se no leito junto a pacientes que iam morrer no dia ou nos dias seguintes.

Oscar já predisse 50 mortes, e sua passagem pelos corredores da clínica deve apavorar os residentes que já sabem de sua habilidade.

Saiu um livro este mês escrito pelo dr. David Rosa "Making Rounds With Oscar: The Extraordinary Gift of an Ordinary Cat" que procura ir além do fato jornalístico; a existência de algum hormônio sentido apenas pelos gatos e que possibilite a ele ter esta certeza do fim próximo.

Mas, mistérios são mistérios e quanto há mais tempo sejam mistérios, se tornam mais estranhos.

Semana passada foi encontrada uma estatueta de um gato egípcio com mais de 3000 anos, conservada até hoje no ambiente em que ele devia ser cultuado.Cultuado porque? Já pensou?

Ora, do mesmo modo que o autor do livro 1421, o Menzies explicou que os chineses não inventaram a bússola apenas como uma curiosidade, nem a pólvora para fazer fogos de artifício, mas usaram suas invenções em esquadras poderosas que percorreram todos os mares do mundo, os egípcios talvez não tenham sido adoradores de gatos só por que gatos são adoráveis como estes três aí acima...

Ao longo de muitos anos, até de muitas décadas, tive gatos em minha casa. E com eles mantive um relacionamento mutuamente respeitoso. Nunca imaginei caninizar um gato. Cachorros, que também tive, podem até se felinizar em alguns momentos, mas um gato jamais irá buscar um jornal.

O gato, talvez por seus poderes supersensoriais, pode até picar um jornal, mas apanhá-lo na boca para trazer a seu humano residente, JAMAIS.

Em cima destes fatos sobre gatos há um outro também muito estranho e definitivo: há pessoas que têm horror a gatos.

Neste momento podemos imaginar a razão dos egípcios, uma boa parte deles pelo menos, terem adoração pelos gatos. Se há pessoas que têm horror haverá pessoas que podem ter adoração, não é?

Gatos, e o Oscar mais ainda, não riem, nem fazem nada que possa parecer com isto.

Gatos não demonstram emoções humanas, ronronam por que isto deve agradar-lhes, se esfregam nas pernas das pessoas pelos memos motivos e ficam contentes quando lhes damos bocadinhos de alimentos - depois de cheirarem para saber de sua natureza.

Esta história do Oscar e de sua habilidade em sentir o fim da vida de pessoas próximas me serve (e sugiro que sirva também a você) para olhar os gatos sob nova ótica.

Pela mais simples das razões: eles sabem das coisas, ou pelo menos sabem de uma coisa que preocupa a todos.

E também para que ao assistir a entrega dos prêmios para o pessoal do cinema em Hollywood nas próximas semanas, não fique com inveja do anúncio:

- E o Oscar vai para ...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O Corvo de Poe em inglês e numa tradução de Fernando Pessoa

O CORVO(1845)


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio Dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ânsia e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
(Tradução de Fernando Pessoa)

THE RAVEN (1845)

Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint and curious volume of forgotten lore,
While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping,
As of some one gently rapping, rapping at my chamber door.
"'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door-
Only this, and nothing more."

Ah, distinctly I remember it was in the bleak December,
And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow;- vainly I had sought to borrow
From my books surcease of sorrow- sorrow for the lost Lenore-
For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore-
Nameless here for evermore.

And the silken sad uncertain rustling of each purple curtain
Thrilled me- filled me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my heart, I stood repeating,
"'Tis some visitor entreating entrance at my chamber door-
Some late visitor entreating entrance at my chamber door;-
This it is, and nothing more."

Presently my soul grew stronger; hesitating then no longer,
"Sir," said I, "or Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at my chamber door,
That I scarce was sure I heard you"- here I opened wide the door;-
Darkness there, and nothing more.

Deep into that darkness peering, long I stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming dreams no mortals ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the stillness gave no token,
And the only word there spoken was the whispered word, "Lenore!"
This I whispered, and an echo murmured back the word, "Lenore!"-
Merely this, and nothing more.

Back into the chamber turning, all my soul within me burning,
Soon again I heard a tapping somewhat louder than before.
"Surely," said I, "surely that is something at my window lattice:
Let me see, then, what thereat is, and this mystery explore-
Let my heart be still a moment and this mystery explore;-
'Tis the wind and nothing more."

Open here I flung the shutter, when, with many a flirt and flutter,
In there stepped a stately raven of the saintly days of yore;
Not the least obeisance made he; not a minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched above my chamber door-
Perched upon a bust of Pallas just above my chamber door-
Perched, and sat, and nothing more.

Then this ebony bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and stern decorum of the countenance it wore.
"Though thy crest be shorn and shaven, thou," I said, "art sure no craven,
Ghastly grim and ancient raven wandering from the Nightly shore-
Tell me what thy lordly name is on the Night's Plutonian shore!"
Quoth the Raven, "Nevermore."

Much I marvelled this ungainly fowl to hear discourse so plainly,
Though its answer little meaning- little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living human being
Ever yet was blest with seeing bird above his chamber door-
Bird or beast upon the sculptured bust above his chamber door,
With such name as "Nevermore."

But the raven, sitting lonely on the placid bust, spoke only
That one word, as if his soul in that one word he did outpour.
Nothing further then he uttered- not a feather then he fluttered-
Till I scarcely more than muttered, "other friends have flown before-
On the morrow he will leave me, as my hopes have flown before."
Then the bird said, "Nevermore."

Startled at the stillness broken by reply so aptly spoken,
"Doubtless," said I, "what it utters is its only stock and store,
Caught from some unhappy master whom unmerciful Disaster
Followed fast and followed faster till his songs one burden bore-
Till the dirges of his Hope that melancholy burden bore
Of 'Never- nevermore'."

But the Raven still beguiling all my fancy into smiling,
Straight I wheeled a cushioned seat in front of bird, and bust and door;
Then upon the velvet sinking, I betook myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this ominous bird of yore-
What this grim, ungainly, ghastly, gaunt and ominous bird of yore
Meant in croaking "Nevermore."

This I sat engaged in guessing, but no syllable expressing
To the fowl whose fiery eyes now burned into my bosom's core;
This and more I sat divining, with my head at ease reclining
On the cushion's velvet lining that the lamplight gloated o'er,
But whose velvet violet lining with the lamplight gloating o'er,
She shall press, ah, nevermore!

Then methought the air grew denser, perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim whose footfalls tinkled on the tufted floor.
"Wretch," I cried, "thy God hath lent thee- by these angels he hath sent thee
Respite- respite and nepenthe, from thy memories of Lenore!
Quaff, oh quaff this kind nepenthe and forget this lost Lenore!"
Quoth the Raven, "Nevermore."

"Prophet!" said I, "thing of evil!- prophet still, if bird or devil!-
Whether Tempter sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert land enchanted-
On this home by horror haunted- tell me truly, I implore-
Is there- is there balm in Gilead?- tell me- tell me, I implore!"
Quoth the Raven, "Nevermore."

"Prophet!" said I, "thing of evil- prophet still, if bird or devil!
By that Heaven that bends above us- by that God we both adore-
Tell this soul with sorrow laden if, within the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the angels name Lenore-
Clasp a rare and radiant maiden whom the angels name Lenore."
Quoth the Raven, "Nevermore."

"Be that word our sign in parting, bird or fiend," I shrieked, upstarting-
"Get thee back into the tempest and the Night's Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken!- quit the bust above my door!
Take thy beak from out my heart, and take thy form from off my door!"
Quoth the Raven, "Nevermore."

And the Raven, never flitting, still is sitting, still is sitting
On the pallid bust of Pallas just above my chamber door;
And his eyes have all the seeming of a demon's that is dreaming,
And the lamplight o'er him streaming throws his shadow on the floor;
And my soul from out that shadow that lies floating on the floor
Shall be lifted- nevermore!

Never more, nunca mais, mas...

Este post é um convite para um mergulho na sua alma, na sua mente e quando isto acontece os resultados podem não ser muito agradáveis.

Mas, será que vale a pena?

Você lê, você julga.

Lá vai: a expressão Nunca Mais é uma das mais definidas e definitivas expressões humanas. Você há de concordar comigo que nossa sempre rápida existência - mesmo vivendo mais de 100 anos - é um nada em relação aos milhões de anos de vida na Terra.

Dai frequentemente nos vermos diante de situações NUNCA MAIS.

Há situações NUNCA MAIS dramáticas, que demoram a esmaecer em nossa memória e em nossas paixões e situações NUNCA MAIS tão fraquinhas que no dia seguinte já começam a ser definitivamente esquecidas.

Mas, não há nada falado ou escrito que supere a realidade, vivida.

Minha primeira situação NUNCA MAIS identificada por mim como NUNCA MAIS foi a morte prematura de meu padrinho e amigo quando eu tinha 17 anos.

Ao vê-lo no caixão pronto para ser enterrado me dei conta do NUNCA MAIS. NUNCA MAIS conversas sobre o mundo, sobre os negócios, sobre as amizades, sobre a politica e suas consequências. Nada em especial, mas a amizade do menino com o padrinho ali naquele momento passava a ser um NUNCA MAIS definitivo.

Ainda não havia lido o Corvo de Edgar Alan Poe em que o Nevermore tornara-se em obra prima literária, universal.

Em português há duas traduções notáveis do Corvo. Uma de Fernando Pessoa e outra de Machado de Assis.

Para trazer o mistério por trás do NUNCA MAIS preferi usar e transcrever nesta Liberdade Carioca a tradução de Fernando Pessoa. Algumas sonoridades lusas, na minha opinião, emolduram de forma mais dramática conotações que não assomam tão facilmente assim à nossa consciência.

Mas, o que assoma à consciência é o que me levou de fato a escrever este texto.

Hoje pela manhã, ao vir para o escritório, entrevi andando nas margens da Lagoa um cidadão que durante um milésimo de segundo pareceu meu pai morto em 1973. No milésimo de segundo seguinte vi que se havia alguma semelhança estava nos óculos escuros antigos e na estatura mediana.

A sensação de derrogar - por um milésimo de segundo que seja - o NUNCA MAIS é no entanto muito prazerosa.

Tal como em sonhos em que pessoas amadas que se foram aparecem em situações novas em que a morte deixa de existir - sempre de forma surpreendente - tornam a lembrança daquela noite uma ocasião memorável. Mesmo quando a situação vivida em sonho seja uma completa bobagem, sem lógica, sem entrosamento com o momento anterior, sem consequências para os momentos seguintes.

Mas, a sensação final é parecida como uma viagem contada por alguém quando não temos a menor intenção ou possibilidade de vir a fazê-la.

O NUNCA MAIS vive em nossa memória, e tem nela - ou na mente - a única possibilidade real de deixar de ser, por milésimos de segundos que seja, um NUNCA MAIS definitivo.

O CORVO em inglês e português foi exposto acima.Ao mesmo tempo você vai ler Poe e Pessoa. Aproveite.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Caixas de dormir para você usar em lugares públicos.

Coisa de russos... Uma caixa com funções semelhantes a guardadores automáticos de bagagens em que você entra, tem lugar para guardar sua pequena "bagagem", deita sobre um leito macio, recoberto de lençois que saem da parede cada vez que se encerra o período de permanência.
Não tem banheiro, nem pia, nem nada relacionado à higiene em nossos termos.
Período mínimo de utilização de 15 minutos.
Veja você mesmo no http://www.pubeditions.com/2010/01/caixa-para-dormir.html#comment-form
Tem acesso wireless, vídeo, ar renovado (algo que eles devem ter tomado de um motel já não mais em função na Rio-Teresópolis...)e sugerem o uso em estações de trem , shoppings, lugares públicos.
O espaço não é muito amplo, mas evidentemente não há proibição para ocupação por mais de uma pessoa.
Aqui no Rio você acha que este troço poderia funcionar?
E em São Paulo?
Em que cidade, ou em que tipo de cidade isto poderia dar certo?

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Como contar vantagens sem parecer estar mentindo...

Há algum tempo o publicitário Al Ries veio ao Brasil e disse em síntese que a comunicação do futuro das empresas seria principalmente a corporativa.

Tarefa que cabe mais às agências de RP do que às demais agências de comunicação.

Na essência ele dizia que diante da notoriedade das empresas ou organizações os clientes - quando precisassem de seus serviços - iriam procurá-las devido exatamente à sua projeção no consciente de todos.

Tomou muita pancada, pois isto parecia meio absurdo.

Passado o tempo - pelo menos uns 5 anos - a cada dia se percebe - em especial na Internet - que depende cada vez mais da iniciativa do cliente chegar a seus fornecedores do que a comunicação do fornecedor convencer um cliente qualquer a preferi-lo.

Hoje, uma jornalista americana JESSICA STILLMAN fala no seu blog que uma nova arte a ser desenvolvida é a arte de contar vantagens sobre si próprio na medida certa para que quem ouça não ache que você está mentindo ou que é um cabotino digno de desprezo.

O mesmo que se aplica às empresas, se aplica ainda mais às pessoas.

Vamos debater este tema?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Hoje isto não poderia ser feito.



Veja esta foto da avenida Pasteur com o morro da Viuva ao fundo.

No primeiro plano está o Hospital Juliano Moreira, diante da praia da Saudade, longe de tudo e de todos.

Era o ambiente criado pelo médico Juliano Moreira para tratar das pessoas com problemas mentais.

Ao lado a praia de Botafogo bucólica e bela.

Em frente a pedra que pertencia à fazenda da Viuva Lacerda começava a ser desbastada para criar a primeira pista externa em torno da pedra.

Fico imaginando o bode que uma coisa como esta daria hoje.

É algo semelhante a aterrar em volta da pedra do Leme para criar mais uma avenida à beira mar e mais uma área para plantar edifícios.

Mas, o Rio de Janeiro, tão bonito sempre, foi criado pelos cariocas e a cada novidade me parece que fica melhor.

Tudo isto para comentar o bafafá da obra do edifício da Eletrobras na Lapa.

Meu palpite é que vai acabar dando certo e todos vamos gostar do prédio quando ele ficar pronto.